Imagem: Euterpe tocando flauta, de
Crispijn de Passe de Oude (ca. 1565-1637)
Todos que
convivem comigo, ainda que superficial ou virtualmente, percebem rapidamente a
importância da música em minha vida. Dias atrás, perguntaram-me a respeito. Foi
fácil esclarecer que fui concebida entre um bolero e outro, além de ter sido
embalada pelos clássicos, as grandes orquestras e o melhor do jazz. Depois, cresci
ouvindo bossa nova e assisti ao nascimento do tropicalismo, da chamada MPB e do
Clube da Esquina. Seria quase impossível ficar alheia a uma estimulação tão
intensa em sua magnífica diversidade. De fato, tornei-me bem mais do que uma
grande apreciadora: música é essencial! O assunto ficou por aí.
Numa daquelas
coincidências bem vindas, pouco depois reencontrei Vinícius de Moraes em um dos
seus mais belos momentos e que resumo nesta única frase: Uma música que seja
como o ponto de reunião de muitas vozes em busca de uma harmonia nova. Um
poema sobre a música trazendo-a em si, como que relacionado intrinsecamente à
figura de Euterpe na mitologia grega, a musa da Música e da Poesia lírica.
Sabia, intuitivamente até então, o quanto a música influencia e propicia que o
processo criativo flua em mim.
A síntese que
melhor me cabe nesse momento veio da maestrina Alondra de la Parra, regente da
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo na homenagem feita pelo centenário
do Poetinha, com os cinco poemas brilhantemente musicados pelo maestro João
Guilherme Ripper: Música e poesia são para mim, em muitos sentidos, o mesmo.
A poesia é música por que tem um ritmo, um clímax, uma forma igual à da música.
A poesia se lê, mas se fala, portanto tem sonoridade. E por outro lado, a
música é uma declamação de uma ideia, como a poesia.
Como na música,
são notas simples que compõem a poesia; o que as tornam belas sinfonias, são o
andamento e o ritmo, além da ênfase que lhes damos nos acordes, bemóis e
sustenidos.
Publicada no
Jornal “O Pioneiro” em 07/07/2013
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