Imagem:
T.S. Eliot (Esme) e Valerie Eliot (née Fletcher), by Angus McBean
As ondas
castanhas da neblina me arremessam
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.
É fácil se encantar com a leitura de versos
da boa poesia e não são muitos os que se interessam em conhecer, por pouco que
seja, o ser humano que guarda em si o Poeta, idealizando sua figura, quase
tanto quanto as musas inspiradoras o são. Assim, costumam ficar surpresos com
suas biografias, onde se apresentam como simples mortais, em sua humanidade.
T.S. Eliot, autor desses belos versos,
laureado com o Nobel de Literatura em 1948, é um bom exemplo disso. Um
americano, que chegou à Inglaterra aos 27 anos, vindo de Harvard para concluir
doutorado em Filosofia. Embora discorde, já que não se pode dissociar o homem
de sua obra, seu lugar ou tempo e das influências que recebeu, transcrevo uma
afirmação do próprio Escritor, que bem descreve sua dualidade: Quanto mais
perfeito for o artista, mais inteiramente estarão nele separados o homem que
sofre da mente que cria.
Vestia-se de uma respeitabilidade impecável,
colete, terno, gravata e chapéu coco, além de colecionar guarda-chuvas. Homem
de pouca e entediante fala, raramente dizia o que pensava, preferindo discorrer
sobre diferentes tipos de chá. É óbvio que passou a ser considerado nos meios
literários como o maior chato!
Um casamento triste, alguns relacionamentos,
que presumo platônicos e a dedicada Valerie. Aliás, não fosse por ela, Eliot
teria mantido suas determinações de não ter seus poemas ilustrados ou musicados
e nem seriam publicados seus versos inéditos e manuscritos. Jamais tomaríamos
conhecimento de seus poemas adolescentes e inacreditavelmente obscenos e nem
assistiríamos Cats, com música de Andrew Lloyd Webber, que rendeu mais
de dois bilhões de dólares.
O homem, entretanto, não impediu que o Poeta
revolucionasse o mundo com o modernismo!
* Publicada na revista CAPITA Global News em
26 12 2012