Chorinho, 1942 – Cândido Portinari
"Malandro é o curupira, que só faz gol de calcanhar". Lendo uma
edição da revista Piauí, encontrei essa pérola! Coisas de um Brasil criativo,
que muitas vezes negligencia sua própria cultura, consequência natural de quem
negligencia sua própria gente. Apesar de não gostar tanto assim de futebol e
menos ainda de malandragem, no estrito sentido da palavra, cabe uma boa
análise, sob o ponto de vista cultural.
É inegável o nosso patrimônio de lendas e figuras mitológicas, que vão do
Curupira às mulas-sem-cabeça, passando pelo Saci e que poderiam ser muito mais
de mil e uma noites, além das tantas que Lobato contou. Lobato mesmo, esse que
andam querendo censurar nas escolas, alegando ser preconceituoso. Uma outra
história!
Sem tanto rigor quanto o de Suassuna, acredito que também cabem aqui o
Pato Donald e sua turma, a Cinderela e Peter Pan. Só me preocupa que com essa
globalização toda, nossas crianças cresçam, por displicência nossa, sem saber
que havia um boto que gostava de festas juninas e moças bonitas. Êita Boto
malandro!
Uma malandragem carregada de romantismo e imortalizada em verso e prosa.
É difícil esquecer o Vadinho em “Dona Flor e seus dois Maridos”, de Jorge Amado;
a bem-humorada "Ópera do Malandro", de Chico Buarque de Hollanda ou a
peça teatral "Boca de Ouro", escrita por Nelson Rodrigues, um perfil
realista do malandro. É claro, faltava Macunaíma, criação de Mario de Andrade, nosso
anti-herói tupiniquim, sem caráter nenhum e senhor da nossa brasilidade.
Afinal, é sobre cultura brasileira que trato, em todas as suas
manifestações artísticas, sejam plásticas, literárias, musicais e folclóricas,
eruditas ou populares. O que falta é valorização, por nós mesmos, desse tesouro
nacional tão aclamado em outras terras e que aqui, vem perdendo identidade e
espaços para expressão.
Se as pinturas de Hopper são
estudadas no ensino fundamental americano, porque não ensinamos, em casa e na
escola, sobre Portinari ou Tarsila?
* Publicada na Revista CAPITA Global News em 13∕12∕2012 e no
Jornal “O Pioneiro” em 16∕12∕2012
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