Ilustração: Óleo sobre tela - Age of
Innocence – Joanna Zjawinska
E
lá estava ela, do alto dos seus cinco anos, admirando as tranças longas,
cuidadosamente tecidas em seus cabelos dourados, no espelho do elevador. Ganhei
um sorriso nos lábios ao ver aquela miniatura de mulher, expressando sua tenra
feminilidade, uma sensualidade ingênua, de forma tão espontânea.
Respondeu
de forma afetiva e familiar ao meu cumprimento e começou a tagarelar sobre a
viagem que faria com seus pais logo em seguida. Era uma criança extrovertida e
linda, sem sombra de dúvidas. Seu nome, Fê, deduzível Fernanda!
Pediu
minha ajuda para levar aquela maleta de madeira clara, imensa para ela, até a
porta do apartamento.
-
É a casinha das minhas bonecas, que vira malinha! Ganhei da Mamãe!
Aliviada,
pensei: Elas ainda brincam de bonecas, ainda bem! Bem melhor do que a
maquilagem precoce e as danças erotizadas que invadem o mundo infantil.
Tinha acabado
de sair de um seminário de psicanálise e de imediato, a citação de Lacan
martelou em minha cabeça: Ninguém nasce
mulher, torna-se mulher. Mas como poderia Fê ter aprendido em tão pouco
tempo, a ser uma mulher tão adorável?
Fui para casa,
perdida em pensamentos, melhor, achada em raciocínios, analogias, hipóteses e
teses. Logo um estudo de Antropologia Social de Rita Laura Segato, sobre as
questões de gênero, saltou dos arquivos da memória. Lá a mais acertada
afirmação da necessidade de estudos interdisciplinares para melhor avaliar o tema.
Que me perdoem
os doutos colegas, mas não há como fugir, por exemplo, da carga genética que
diferencia o macho da fêmea, até mesmo observando-se o comportamento
diferenciado dos irracionais, assim como das influências culturais e
históricas, nisso tudo. Além do mais, até em consequência dessas diferenças, a
maioria dos teóricos que até então se dedicaram aos estudos sobre o ser feminino, são homens.
E a doce Fê?
Sim, ela sabe, sente, pressente e como toda mulher intui, o que também não se
explica!
Em "O Pioneiro", 07/10/2012