As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Drummond




Não, não és saudade ou ausência,
És emoção que pulsa, razão que contesta,
És Drummond que se eterniza
Nos sentimentos de sua gente.

31/10/2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quotidiano



Ilustração: Janela com dálias – Raquel Taraborelli



Amanheci. Ao longe o sino da Igreja, seguido pelo galo insistente e o coral de pássaros anônimos, canto em desalinho, que banha minha janela. Uma janela realmente lateral do quarto de dormir, com a permissão de Lô e Brant. É assim meu interior na cidade grande, uma natureza, na plenitude da primavera,que ainda persiste em meio ao concreto.
O beijo matinal, banho, o filho que sai para a escola, café adoçado com carinho e logo o trajeto para o trabalho. No caminho revejo e organizo a agenda do dia, enquanto me atraso, passando porobras, muitas obras. Capacetes coloridos em tantas formigas humanas que constroem e muitas vezes não pensam além do Panem nostrumquotidianum da nobishodie (o pão nosso de cada dia nos dai hoje). Apenasconstroem para sobreviver.
A gente se acostuma, mas não devia, sim, Marina Colasanti! Pequenos jardins coloridos, pássaros aprisionados e crianças nos parques apontam a dicotomia, a busca de harmonia em pedacinhos de natureza, que preservamos a todo custo. Pedacinhos, partes, cotas, quotidiano, sigo o dia.
Vai-se a manhã atarefada com números roubando-me a poesia, intermináveis planilhas de custo voltadas para a saúde de tantos carentes e desconhecidos, planilhas que demonstram o quanto custa, sem sequer insinuar o quanto vale.
Em meio à tarde, o telefone toca, é D. Lola, de Linhares. Na voz doce e generosa, de quem ainda não conheço o olhar, a pausa gostosa, o aconchego. Fala de seu jardim, onde nascem as flores do delicado bordado de Caicó que perfumam o linho e convida para experimentar sua tapioca. Irrecusável, em tão deliciosa companhia!
Bem, é sempre bom abstrair da rotina, pensando em porcelanas com flores de cerejeiras e inundadas pelo perfume do jasmim, com a lembrança das boas senhoras, que povoaram minha infância nas Gerais.
Ao fundo, na memória, quotidiano de Chico Buarque. Lá fora, um ruído ensurdecedor. É que as cigarras chegaram!

Publicação no Jornal "O Pioneiro" em 28/10/2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Mormaço



Relógio do tempo parado
sem a brisa que move os segundos.
Aqui, 
só as cigarras fazem a festa
chamando a chuva
que não vem.

24/10/2012


domingo, 21 de outubro de 2012

Segredo

Eternal Legend 2  - Anna Razumovskaya



Guardo-o em meus sonhos quando adormeço
 e é de lá que ao amanhecer
 raia meu primeiro sorriso.

21/10/2012

Patrimônio

Caran d'ache sobre vegetal - Mônica Caetano Gonçalves


Pedras que trilhei
nas ladeiras que bebi.
Inesgotáveis são as minas
que herdei.


21/10/2012



Efemérides



Uma palavra quase em desuso, de doente a moribunda e diga-se de passagem, efeméride é uma palavrinha no mínimo esquisita, de origem grega ou latina, não sei bem, etimologia não é matéria que domino.
Pode até parecer serem somente letrinhas miúdas em calendários, mas há realmente datas em que aconteceram fatos e pessoas muito interessantes, além das históricas e comemorativas que todos sabemos. Se for feriado então, ninguém esquece! Vamos, por exemplo, a um dia aparentemente sem grandes manchetes, sejam em papiros ou jornais, um 9 de outubro.
Em 1940, nasceu um John, com um Winston antes do Lennon, que como músico dispensa apresentações, mas que muito além disso, foi escritor e ativista. Mais importante do que escrever sobre ele, foi e é importante saber e sentir o que ele suscitou e como influenciou as gerações que se seguiram, mesmo que não tenham ou tivessem a real dimensão de tudo isso.
Em outro 9 de outubro, em 1967, Ernesto Rafael Guevara de la Serna, ou simplesmente Che Guevara, foi executado, um dia depois de ser capturado. Uma personalidade considerada pela revista Time entre as mais importantes do século XX. Bem mais do que a imagem que vemos estampada em camisetas, numa fotografia de Alberto Korda, uma das imagens mais reproduzidas do mundo, por sinal; Che, além de médico, jornalista e escritor e um dos ideólogos da Revolução Cubana (1953-1959), ocupou altos cargos no governo, seja como Ministro da Indústria ou diplomata, encarregado de missões internacionais. Controverso, representa para muitos a rebeldia e a luta pela justiça social; enquanto para outros foi um criminoso, responsável por assassinatos em massa.
Suavizando um pouco o rumo da prosa, é interessante notar que entre tantos ilustres, não é citado nenhum brasileiro nascido nessa data. Finalizando, cabe lembrar Jacque Brel, morto em 1978 e suas belas composições e interpretações. Comecei com Imagine e termino com Ne Me Quitte Pas!

Crônica publicada no Jornal "O Pioneiro" em 21/10/2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

domingo, 7 de outubro de 2012

Fê, Menina!


Ilustração: Óleo sobre tela - Age of Innocence – Joanna Zjawinska

                E lá estava ela, do alto dos seus cinco anos, admirando as tranças longas, cuidadosamente tecidas em seus cabelos dourados, no espelho do elevador. Ganhei um sorriso nos lábios ao ver aquela miniatura de mulher, expressando sua tenra feminilidade, uma sensualidade ingênua, de forma tão espontânea.
                Respondeu de forma afetiva e familiar ao meu cumprimento e começou a tagarelar sobre a viagem que faria com seus pais logo em seguida. Era uma criança extrovertida e linda, sem sombra de dúvidas. Seu nome, Fê, deduzível Fernanda!
                Pediu minha ajuda para levar aquela maleta de madeira clara, imensa para ela, até a porta do apartamento.
                - É a casinha das minhas bonecas, que vira malinha! Ganhei da Mamãe!
Aliviada, pensei: Elas ainda brincam de bonecas, ainda bem! Bem melhor do que a maquilagem precoce e as danças erotizadas que invadem o mundo infantil.
Tinha acabado de sair de um seminário de psicanálise e de imediato, a citação de Lacan martelou em minha cabeça: Ninguém nasce mulher, torna-se mulher. Mas como poderia Fê ter aprendido em tão pouco tempo, a ser uma mulher tão adorável?
Fui para casa, perdida em pensamentos, melhor, achada em raciocínios, analogias, hipóteses e teses. Logo um estudo de Antropologia Social de Rita Laura Segato, sobre as questões de gênero, saltou dos arquivos da memória. Lá a mais acertada afirmação da necessidade de estudos interdisciplinares para melhor avaliar o tema.
Que me perdoem os doutos colegas, mas não há como fugir, por exemplo, da carga genética que diferencia o macho da fêmea, até mesmo observando-se o comportamento diferenciado dos irracionais, assim como das influências culturais e históricas, nisso tudo. Além do mais, até em consequência dessas diferenças, a maioria dos teóricos que até então se dedicaram aos estudos sobre o ser feminino, são homens.
E a doce Fê? Sim, ela sabe, sente, pressente e como toda mulher intui, o que também não se explica!

Em "O Pioneiro", 07/10/2012