Imagem: Pescadores – Di Cavalcanti -
1957
Admito, não resisti aos avanços tecnológicos
utilizados como ferramentas de trabalho como Ruy Castro, ainda saudoso das
Remingtons e Olivettis, quando comentou sobre a cópia de um dos originais
datilografados por Rubem Braga, estampada nas primeiras páginas de Retratos
parisienses. Entretanto, evitei enquanto pude as redes sociais, que
considerava um parque de diversões virtuais. Criticada e pressionada de todas
as formas por amigos, acabei cedendo à abdução.
Passada a
fase de encantamento - quase dependência – veio o primeiro incômodo: o de me
sentir numa vitrine mundial, que funciona ao contrário, já que ao invés de
mercadoria, somos todos consumidores em potencial no mercado globalizado.
Depois de mais de 3.000 amigos, certamente uma amostragem considerável,
comecei a desenvolver uma visão mais crítica e de certa forma semiótica, sobre
a dinâmica daquele universo em expansão. Apesar de ter conseguido a façanha de
trazer alguns e caros amigos para meu convívio, a maioria de meus contatos são
pessoas que provavelmente jamais terei a oportunidade de me encontrar
pessoalmente. E os questionamentos são inevitáveis: Quem são realmente? Do que
se ocupam e com que se preocupam em seu quotidiano?
Observando as manifestações virtuais, constatei que a grande maioria
busca afeto, acolhimento, ou o chamado pertencimento. São infindáveis
frases e textos de auto-ajuda, um fenômeno que se reflete inclusive nas listas
dos livros mais vendidos no Brasil; causas que privilegiam a proteção aos
animais, ao invés das crianças abandonadas e carentes; e nem tantos protestos
aos descalabros políticos.
Fico
daqui imaginando as análises que são feitas sobre cada um de nós, pelos
legítimos beneficiários das redes sociais e as peripécias de marketing para nos
vender amor-em-pedaços, aliás um doce delicioso, embalados cuidadosamente em
nossos sonhos, manipulando as informações que disponibilizamos a nosso
respeito, em favor do mercado capitalista .
Assim
concluo: Caiu na rede? É peixe, ou pato, um prato perfeito e servido
graciosamente aos vorazes mercadores dos desejos humanos.
Publicado no Jornal “O Pioneiro” em 31/03/2013