Imagens: Fonte Google
Num instante,
criança, pés molhados no “córrego perdido entre margens fofas de capim
crescido”; subindo em árvores e admirando minúcias de borboletas. Ouço
histórias de “Seu” Roque, o carpinteiro, em sua fazenda personagem; Pai em
minha vida. Sinto a vaidade infantil do menino, com o pequeno pássaro verde - o
tuim -, pousado em sua mão suja de terra e peraltices.
Um
mundo imaginário e em parte real, nas lembranças que me vem através Rubem Braga,
quando distraída folheio Retratos
Parisienses, a mais recente publicação de suas crônicas, e me recordo de
outras tantas, lidas e relidas. Em especial, Ai de ti, Copacabana, que repousa honorário na pequena estante em
meu quarto, bem ao alcance das mãos.
Absorta
pela pintura de seus retratos, ganho as ruas de Paris, ouvindo elogios de
Juliette Gréco a Sartre, críticas picantes de Marie Laurencin a Cocteau,
enquanto Jacques Prévert manda lembranças a Chagall. São assim, as viagens com
esse capixaba cosmopolita!
Como
bem disse Clarice Lispector: "Há mil Rubens dentro de Rubem Braga" e
com esses milhares de formas em cenas quotidianas vistas do alto das árvores,
em meio à guerra, da cobertura do Leblon ou em qualquer esquina do mundo, Rubem
Braga vem atravessando gerações. Entre os maiores escritores nacionais -o
inventor da crônica moderna brasileira e para quem a discussão quanto ao gênero
literário não se aplica – é o único que jamais escreveu um livro de ficção ou
romance.
Acredito
que nem tantos saibam sobre o homem que traduziu Terra dos Homens de Saint-Exupéry, sua rebeldia e opções políticas,
do embaixador do Brasil em Marrocos, com seu jeito turrão e contido, apesar da
excepcional veia de humor e artérias poéticas; bem resumido por Sérgio Buarque
de Holanda: “Não é de estranhar, assim, que Rubem Braga, numa prosa feita de
simplicidade de cordura, de contrita devoção diante da maravilha cotidiana, nos
venha oferecendo paginas de generosa poesia”.
Publicada na Revista CAPITA
Global News em 21/03/2013
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