Imagem: Sebastião Salgado - Mulheres
da tribo Zo'e, na Amazônia brasileira
O primeiro contato foi com os
álbuns de família, que traziam além das belas fotos, muitas histórias contadas
e dedicatórias escritas no verso. Havia um segredo guardado sob o pano preto do
lambe-lambe que ainda pairava ao lado da fonte luminosa, na praça da cidade de
interior em minha infância, perfumada de pipocas e colorida de balões e algodão
doce. À curiosidade infantil quanto àqueles equipamentos que guardavam sorrisos
e momentos a serem gravados em papel, seguiu-se o gosto pela fotografia, sempre
impregnado de impressões, emoções e memórias. Mais tarde, guiada por elas, o
interesse pelo olhar sensível, dos que escolhiam ângulos e luminosidade
perfeitos, eternizando instantes únicos.
Depois de um pouco de
história, entre os grandes nomes, encontrei Sebastião Salgado, mineiro de
Aimorés, que cedo ganhou o mundo com seus olhos azuis e apurados. O doutor em
Economia pela Universidade de Paris passou a dedicar-se à fotografia em 1973,
explorando através dela, temas clássicos, como a desigualdade, exclusão social e
globalização, gerando debates ao redor dessas questões, prescindindo das
palavras.
Com as imagens em preto e branco capturadas inicialmente por sua Leica,
desnuda o contraste entre a crueza da cena real e os sentimentos que despertam.
Segundo o jornalista Jânio de Freitas, sua obra não é apenas uma exposição
racional dos problemas econômico-sociais do mundo: “Diante da fotografia
característica de Sebastião Salgado vêm-nos, em uma rajada única, a ternura e a
dor, a culpa e o prazer estético. Inseparáveis e indistinguíveis, consistentes
e indisfarçáveis, todos os ricos sentimentos que a pobreza emocional dos dias
de hoje não foi ainda capaz de consumir e devorar.”
Fortemente influenciado pela técnica do ”momento decisivo”, empregada
por Henri Cartier Bresson, transmite em um “shot” todo o drama e impacto da
situação. Apesar de críticas isoladas, é impossível descartar as
qualidades artísticas em suas fotografias, mas seu maior mérito é fazer ver, o
que tantos insistem em não enxergar.
Publicada na Revista CAPITA Global News em 14/03/2013
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