Imagem: Detalhe em Ouro Preto – Mônica
Caetano Gonçalves
Desde a primavera, ando admirada
com os visitantes alados que recebo todas as manhãs, já que moro em um
apartamento, que sequer varanda tem. Chegam esvoaçantes e até cantando e por
aqui ficam, sem a menor cerimônia. Não, não são somente pardais, tão comuns nas
grandes cidades; recebo bem-te-vis, coleirinhos e canários da terra.Dia desses,
um sabiá cantou, num espetáculo particular, pousado na grade da janela de meu
quarto. Pouco conheço de pássaros, nem saberia nomeá-los como Chico Buarque
cantou em Passaredo, mas enquanto era primavera, percebi que as pequenas
plantas que tenho na janela da cozinha, serviam de material para a construção
dos ninhos, já que encontrava pequenos galhos e folhas quebrados pelo chão
depois que as "visitas" iam embora.
Só que agora, em pleno verão, continuam a vir, faça chuva ou faça sol.
Aprenderam o caminho e sentem-se à vontade, como se fosse um refúgio seguro. É
bem verdade que por aqui, ainda há crianças brincando na rua e pessoas que se
sentam nas calçadas, nos portões de suas casas, tecendo conversas de final de
tarde, além de uma pequena reserva botânica, que nos brinda com seu frescor nas
brisas verdes.
Gosto desse tom interiorano que empresta ares de harmonia à metrópole,
trazendo consigo momentos de sossego e quietude, o convívio cordial entre
famílias que se avizinham e a alegria ingênua dos risos infantis. Tudo que nos
aproxima das coisas boas e simples da vida e que certamente nos permitem
compartilhar espaços, ainda que inusitados, com pássaros em plena liberdade.
Às vezes penso que os atraio de tanto admirá-los pela colorida melodia
que me desperta, pela leveza da liberdade que os sustenta, sem teto ou amarras,
neste vasto mundo de meu Deus. E eu, feliz por oferecer abrigo a passarinhos,
repito, todas as manhãs, com a licença do poeta Mário de Miranda Quintana:
"Todos
esses que aí estão/Atravancando meu caminho,/Eles passarão.../Eu
passarinho!"
Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 03/03/2013
Sinto o cheiro da poesia nos versos iluminados da poetisa, que enlaça seus sentimentos como um abraço materno e vivaz. Lindo querida Monica... Beijos meus...
ResponderExcluirMuito obrigada, Maria Clara! Sinta-se em casa, é sempre um prazer receber sua pareciação, sempre gentil.
ExcluirBeijos.