As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 3 de março de 2013

Passaredo



Imagem: Detalhe em Ouro Preto – Mônica Caetano Gonçalves

                Desde a primavera, ando admirada com os visitantes alados que recebo todas as manhãs, já que moro em um apartamento, que sequer varanda tem. Chegam esvoaçantes e até cantando e por aqui ficam, sem a menor cerimônia. Não, não são somente pardais, tão comuns nas grandes cidades; recebo bem-te-vis, coleirinhos e canários da terra.Dia desses, um sabiá cantou, num espetáculo particular, pousado na grade da janela de meu quarto. Pouco conheço de pássaros, nem saberia nomeá-los como Chico Buarque cantou em Passaredo, mas enquanto era primavera, percebi que as pequenas plantas que tenho na janela da cozinha, serviam de material para a construção dos ninhos, já que encontrava pequenos galhos e folhas quebrados pelo chão depois que as "visitas" iam embora.
Só que agora, em pleno verão, continuam a vir, faça chuva ou faça sol. Aprenderam o caminho e sentem-se à vontade, como se fosse um refúgio seguro. É bem verdade que por aqui, ainda há crianças brincando na rua e pessoas que se sentam nas calçadas, nos portões de suas casas, tecendo conversas de final de tarde, além de uma pequena reserva botânica, que nos brinda com seu frescor nas brisas verdes.
Gosto desse tom interiorano que empresta ares de harmonia à metrópole, trazendo consigo momentos de sossego e quietude, o convívio cordial entre famílias que se avizinham e a alegria ingênua dos risos infantis. Tudo que nos aproxima das coisas boas e simples da vida e que certamente nos permitem compartilhar espaços, ainda que inusitados, com pássaros em plena liberdade.
Às vezes penso que os atraio de tanto admirá-los pela colorida melodia que me desperta, pela leveza da liberdade que os sustenta, sem teto ou amarras, neste vasto mundo de meu Deus. E eu, feliz por oferecer abrigo a passarinhos, repito, todas as manhãs, com a licença do poeta Mário de Miranda Quintana:
"Todos esses que aí estão/Atravancando meu caminho,/Eles passarão.../Eu passarinho!"

Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 03/03/2013

2 comentários:

  1. Sinto o cheiro da poesia nos versos iluminados da poetisa, que enlaça seus sentimentos como um abraço materno e vivaz. Lindo querida Monica... Beijos meus...

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    1. Muito obrigada, Maria Clara! Sinta-se em casa, é sempre um prazer receber sua pareciação, sempre gentil.
      Beijos.

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