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"There's more to consumers then numbers” - The Financial Express.
Falávamos
sobre arte, não a convencional, mas a difícil arte de conviver com os vizinhos.
Eram casos hilários, alguns tragicômicos, que cada um de nós contava, entre
gargalhadas. Foram várias histórias captadas através das quase transparentes
paredes de apartamentos; algumas recheadas com a figura do síndico, quase
sempre um chato profissional, que não lembra só a música, mas é a própria
personificação de Tim Maia; além daquela vizinha de cadeiras oscilantes, que
Doryval Caymmi cantou e todo mundo jura que tem uma também.
Bons
momentos de distração, na tarde que insistia em não terminar e que me trouxeram
lembranças da menina que fui, nas cidades de interior em que vivi, já que até
os sete anos de idade já tinha passado por quatro cidades mineiras - por
contingências profissionais de meu pai –, antes de criar raízes na capital.
Nelas os vizinhos eram mais que amigos, quase parentes por proximidade. Havia
uma troca de amabilidades, receitas e bordados entre as famílias, além da
oferta dos quitutes - recém saídos do forno e anunciados pelo perfume -, que
seriam retribuídos depois, já que seria imperdoável, devolver o vasilhame
vazio.
Logo
percebi como era diferente viver numa cidade grande: tudo era mais distante e
as pessoas também. Apesar de muitas vezes viverem empilhadas umas sobre as
outras, o relacionamento nem sempre passa de um lacônico Bom dia, sem
identidade; quando não descamba para reclamações sobre os incômodos alheios,
tão bem retratados num certo Recado ao Senhor 903 de Rubem Braga
ou por Marina Colasanti: A
gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que
não as janelas ao redor. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não
abrir de todo as cortinas. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece
o ar, esquece a amplidão.
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não
devia.
Publicada na
revista CAPITA Global News em 29/03/2013
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