As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 2 de dezembro de 2012

Preto no Branco


O Beijo do Hotel de Ville - Robert Doisneau


Certo dia, em meados dos 1800, Baudelaire, tratando da Modernidade, escreveu: “É o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável”. Falava entre outras coisas de uma preocupação com a fotografia, que entendia poder banalizar a pintura e empanar seu brilho e importância. Natural que assim fosse naquele momento.
Mais de um século depois, podemos rever e revisitar essa preocupação, em outro viés. A banalização veio de fato, mas não atingiu as artes plásticas e sim a própria fotografia. O desvario dos cliques nipo-digitais traz em si a nostalgia dos filmes, da câmara escura, da suavidade e precisão das Leicas e até do Lambe-lambe que povoou as praças de minha infância, num banho revelador, de pura magia.
Há entretanto, os que fazem mais do que arte na fotografia, nomes como Doisneau, Cartier-Bresson e Eisenstaedt, entre tantos  famosos e os quase anônimos com nomes em letra miúda nos postais de Copacabana ou São João D’El Rei. Esses imprimem uma aura poética às imagens que capturam, retratando um fragmento de história, história do dia a dia, nas vitrines da vida, como fosse uma poesia do idêntico e não do diferente.
Não ouso tanto quanto Walter Benjamin ao comparar a fotografia à Psicanálise, mas reflito sobre o quanto dos desejos inconscientes do coletivo há no olhar único e individual que fica gravado numa fotografia artística. E sobre o quanto, muita vez inadvertidamente, nos reconhecemos e identificamos através delas.
É impossível evitar a sensação que nos inspira o Beijo do Hotel de Ville, de Doisneau ou os tantos beijos de guerra de Alfred Eisenstaedt e a autoconfiança do garoto da Rue Mouffetard na Paris de 1954, de Cartier-Bresson, de quem tomo emprestada a definição dessa expressão artística contemporânea: Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração. É um estilo de vida.

Publicada no Jornal "O Pioneiro" em 02/12/2012 e na Revista Capita Global News em 29/12/2012


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