As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

sábado, 13 de julho de 2013

Espelhos nossos de cada dia

Imagem: Óleo sobre tela - Leonid Afremov

Dizem que os espelhos nos chegaram através dos reflexos vistos na superfície da água, assim como a vaidade e o egocentrismo que encantaram Narciso. Seguimos pelos tempos admirando nossas imagens em metais planos e polidos até chegarmos à gênese: o homem criado à imagem e semelhança do Perfeito; por mim, mera presunção da criatura que busca em si a perfeição, como fosse a miragem de um oásis que buscamos sedentos sem jamais alcançar.

O mito de Narciso tem sido fonte de inspiração nas artes e na literatura há pelo menos dois mil anos, a começar pelo poeta romano Ovídio. Muitos foram os que se banharam nessa fonte, como John Keats, Stendhal, Dostoevsky e Oscar Wilde, além de grandes nomes da pintura, entre eles Caravaggio, Poussin, Turner e Salvador Dalí. Até hoje, uma das tantas interpretações do mito é contada à nossas crianças através dos irmãos Grimm na história da rainha má que envenenou Branca de Neve.

Nas ciências, além da ótica, também se vêem sua influência, especialmente nas que se dedicam aos estudos do comportamento humano. De seu interesse pela mitologia, Freud teceu algumas de suas hipóteses psicanalíticas, como a do narcisismo, também presente na obra de Lacan e mais recentemente destacado na Psicologia do Self, de Heinz Khout.

Torna-se clara a reflexão quanto à importância de si mesmo e de sua imagem refletida no outro para o homem de todos os tempos e que se atém aos aspectos atualmente pejorativos ligados a conceitos mais primitivos como vaidade e egoísmo, traduzindo-se numa visão sobre a patologia desta questão.

Entretanto, ouso dizer que nem tudo que Narciso acha feio é tão feio quanto lhe parece. Tudo depende do ângulo e do foco do olhar que se lança sobre o espelho. Pode-se ver além das máscaras e véus, traços de toda a civilização humana marcados em nossas feições, como resultado que somos de tudo aquilo que fomos.


Publicada na Revista CAPITA Global News em 13/07/2013

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