Imagem: Óleo sobre tela - Leonid Afremov
Dizem que os
espelhos nos chegaram através dos reflexos vistos na superfície da água, assim
como a vaidade e o egocentrismo que encantaram Narciso. Seguimos pelos tempos
admirando nossas imagens em metais planos e polidos até chegarmos à gênese: o
homem criado à imagem e semelhança do Perfeito; por mim, mera presunção da
criatura que busca em si a perfeição, como fosse a miragem de um oásis que
buscamos sedentos sem jamais alcançar.
O mito de
Narciso tem sido fonte de inspiração nas artes e na literatura há pelo menos
dois mil anos, a começar pelo poeta romano Ovídio. Muitos foram os que se
banharam nessa fonte, como John Keats, Stendhal, Dostoevsky e Oscar Wilde, além
de grandes nomes da pintura, entre eles Caravaggio, Poussin, Turner e Salvador
Dalí. Até hoje, uma das tantas interpretações do mito é contada à nossas crianças
através dos irmãos Grimm na história da rainha má que envenenou Branca de Neve.
Nas ciências,
além da ótica, também se vêem sua influência, especialmente nas que se dedicam
aos estudos do comportamento humano. De seu interesse pela mitologia, Freud teceu
algumas de suas hipóteses psicanalíticas, como a do narcisismo, também presente
na obra de Lacan e mais recentemente destacado na Psicologia do Self, de Heinz Khout.
Torna-se clara a reflexão quanto à
importância de si mesmo e de sua imagem refletida no outro para o homem de
todos os tempos e que se atém aos aspectos atualmente pejorativos ligados a
conceitos mais primitivos como vaidade e egoísmo, traduzindo-se numa visão
sobre a patologia desta questão.
Entretanto, ouso dizer que nem tudo que
Narciso acha feio é tão feio quanto lhe parece. Tudo depende do ângulo e do
foco do olhar que se lança sobre o espelho. Pode-se ver além das máscaras e
véus, traços de toda a civilização humana marcados em nossas feições, como
resultado que somos de tudo aquilo que fomos.
Publicada na
Revista CAPITA Global News em 13/07/2013
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