As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 1 de setembro de 2013

Sobre flores e crianças

Imagem: Fonte Google/divulgação


Quase ouço Manoel de Barros resmungando entre um assobio e outro: Não sei de onde veio, nem de que lado de mim entrou esse besouro. Devo ter maltratado com os pés na infância algum pobre-diabo. Pois como explicar o olhar ajoelhado desse besouro?

Sei bem de onde vieram os meus besouros, que pacientes, se transformaram nos belos cavalos das carruagens feitas de caixinhas de fósforo que minha infância inventou, emprestando vida e movimento aos castelos de mil fantasias, que habitavam minha imaginação, minhas reinações de narizinho arrebitado a brincar com o irmão que não se chamava Pedrinho, mas também era um menino muito maluquinho.

Depois que me tornei gente grande, os pobres besouros ficaram esquecidos até que depois das asas que me deram a poesia, pudesse pousar - como uma abelhinha - em certo jardim colorido por risos e peraltices e reencontrar o mais especial de todos eles, entre os livros da biblioteca.

Foi neste jardim encantado que cresceu a maior flor do mundo, plantada pelo menino que havia em Saramago, que acreditava não saber contar histórias para crianças e desenhou com as letras redondas e infantis que guardara em sua memória, a história que "seria a mais linda de todas as que se escreveram desde o tempo dos contos de fadas e princesas encantadas..."

E lá, depois do perfume do pé de laranja lima florido, na varanda daquela casa muito engraçada - sem teto, sem nada - a Emília de outros tempos entendeu ser hora de D. Benta, com os cabelos brancos como os de Adélia Prado, falar de quando era pequena.

Como João Ubaldo Ribeiro, descobri entre os Dez Bons Conselhos de Meu Pai, que ler os grandes desde cedo, ensina a pensar e a escrever ainda que pequeno. E depois a seu tempo, se redescobre o ser livre - a pedra a lapidar – na alegria de ensinar os caminhos à gente miúda.


Publicada no Jornal O Pioneiro em 01/09/2013

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