Imagem: Fonte Google/divulgação
Quase
ouço Manoel de Barros resmungando entre um assobio e outro: Não sei de onde
veio, nem de que lado de mim entrou esse besouro. Devo ter maltratado com os
pés na infância algum pobre-diabo. Pois como explicar o olhar ajoelhado desse
besouro?
Sei
bem de onde vieram os meus besouros, que pacientes, se transformaram nos belos
cavalos das carruagens feitas de caixinhas de fósforo que minha infância
inventou, emprestando vida e movimento aos castelos de mil fantasias, que
habitavam minha imaginação, minhas reinações de narizinho arrebitado a brincar
com o irmão que não se chamava Pedrinho, mas também era um menino muito
maluquinho.
Depois
que me tornei gente grande, os pobres besouros ficaram esquecidos até que
depois das asas que me deram a poesia, pudesse pousar - como uma abelhinha - em
certo jardim colorido por risos e peraltices e reencontrar o mais especial de
todos eles, entre os livros da biblioteca.
Foi
neste jardim encantado que cresceu a maior flor do mundo, plantada pelo menino
que havia em Saramago, que acreditava não saber contar histórias para crianças
e desenhou com as letras redondas e infantis que guardara em sua memória, a
história que "seria a mais linda de todas as que se escreveram
desde o tempo dos contos de fadas e princesas encantadas..."
E
lá, depois do perfume do pé de laranja lima florido, na varanda daquela casa
muito engraçada - sem teto, sem nada - a Emília de outros tempos entendeu ser
hora de D. Benta, com os cabelos brancos como os de Adélia Prado, falar de
quando era pequena.
Como
João Ubaldo Ribeiro, descobri entre os Dez Bons Conselhos de Meu Pai,
que ler os grandes desde cedo, ensina a pensar e a escrever ainda que pequeno.
E depois a seu tempo, se redescobre o ser livre - a pedra a lapidar – na
alegria de ensinar os caminhos à gente miúda.
Publicada no Jornal O Pioneiro em
01/09/2013
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