Imagem: Fotografia – Mônica Caetano Gonçalves
São as âmbulas cônicas ou cilíndricas das clepsidras e ampulhetas
que marcam o tempo que o tempo demarcou em nossas vidas desde sempre. Engana-se
aquele que o considera uma das angústias típicas do mundo atual, esse que
Zygmunt Bauman qualifica como líquido e que vemos, precioso, escoar entre os
dedos. Vem das eras primeiras a preocupação humana em entender seu seguir
alheio às nossas vontades e necessidades.
Dizem as mais recentes teorias científicas em suas verdades
sempre contestáveis, que nossos corpos obedecem às frequências produzidas pela
ressonância do campo eletromagnético em torno da terra, que pulsa em constante
aceleração. É bastante complicado para o entendimento dos vis mortais, mas a
conclusão prática e facilmente percebida por todos nós é que o nosso dia, que
julgávamos de 24 horas, dura realmente e no máximo dezoito.
Na falta dessas seis horas que nos foram tiradas, se
justifica essa correria toda, essa aflição nossa de cada dia para que se possa
cumprir todas as tarefas e lamentar aquele tempinho que faltou para a família e
amigos, o cinema ou teatro e para ler inclusive.
E ainda se ouve dizer que somos nós que fazemos o tempo! A
esses, ironicamente respondo que quem faz o tempo é aquele que fabrica ou
conserta relógios e que tudo que nos resta é administrar o que cabe e o que
sobra no tempo que temos.
Pensar comparativamente nisso que se chama relatividade,
leva-me com frequência a raciocínios interessantes, como o quanto duram para o
trapezista aqueles segundos de malabarismo aéreo até encontrar as mãos seguras
e precisas que acolhem seu voo ou sobre como é efêmera a música em relação às
outras expressões artísticas. Apesar de marcada em seus tempos, existe de fato
o tempo em que dura a sua execução, adormecendo depois em suas pautas. E em
nós, transitórios passageiros nesta viagem, que muitas vezes mal apreciamos a
paisagem pelo caminho.
Publicada
na revista Capita News em 06/09/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário