As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 22 de setembro de 2013

Contextos

Imagem: Google/Divulgação


Há gestos, até de desconhecidos, que ganham um significado muito maior sob os ângulos de nossa percepção. Seguia apressada por uma avenida, rumo à rotina que me aguardava. Antes que freasse no cruzamento que já sinalizava a parada obrigatória, avistei um homem em sua caminhada matinal, calma mas não vagarosa, respeitando os limites de seus sábios cabelos brancos. De lá gesticulou com os dois braços como a dizer-me não entender os motivos de minha pressa e em seguida movimentos com uma das mãos recomendando-me, não sei bem a intenção, mas o mais provável seria que simplesmente reduzisse a velocidade.
Vinha num daqueles momentos necessários de introspecção, nem alegres nem tristes ou poéticos, em que se tem uma longa conversa consigo mesmo revendo a trajetória e a estratégia no cenário nu e cru, como se apresenta. De certa forma uma contextualização, um brainstorming interior, essencial em muitas etapas da vida.
Os gestos de aparente repreensão daquele desconhecido que se fez tão íntimo, disseram muito mais de mim do que as tantas justificativas que buscava dar-me. Em meio ao trânsito congestionado de todos os dias, fitei-me pelo retrovisor e em meus olhos naquele instante real, desenharam-se imagens gravadas na memória, sem que perdesse de vista o trajeto pela frente. Sorri complacente comigo mesma, decidida a ouvir todos os meus argumentos pacientemente, dando-me o tempo e o espaço para traçar novos planos e sonhar outros sonhos.
O homem de fartos anos certamente questionaria, se me soubesse, o porquê de tantos questionamentos, se escrevi as respostas, sabendo inclusive que nos reinventamos antes que a obsolescência nos torne inoperantes e empoeirados em um canto qualquer. E me recomendaria a calma que vi em seus passos seguros e firmes caminhando pelas calçadas da vida.
 Um amigo disse-me um dia que gostaria de ler-me a alma. Lembrando-me disso fui folheando-me as páginas, relendo algumas passagens, buscando inspiração para escrever os próximos capítulos.



Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 22/09/2013

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