Imagem: Google/Divulgação
Tinha uns treze
ou catorze anos, quando li Dom Casmurro, por indicação da escola. Devorei o
livro, apesar dos 148 capítulos, ainda sem suspeitar que se devesse à
genialidade de Machado de Assis, ao criar o narrador em dois tempos distintos
de sua vida, como se fossem dois nele mesmo. Foi inevitável identificar-me com
a Capitu do início da trama, brincalhona e curiosa, daquelas que querem saber
de tudo. E não há como negar que toda mulher, ainda que menina, queira dominar
a arte da sedução para se fazer atraente aos olhos de um homem. A personagem é
tão vívida, que tinha a certeza de que ela existiu um dia, no Rio de Janeiro de
1857.
Muitos anos mais
tarde, refazendo o olhar com outro enfoque sobre a obra, pude tecer várias
análises. A primeira delas me fez concluir definitivamente pela existência de
Capitu. Não como mulher de carne e osso, mas em todos nós, homens ou mulheres,
na ambigüidade marcante em Bentinho e que nos foi ou é imposta, cultural e
religiosamente, entre desejo e culpa. A punição de Capitu sob a ótica da culpa
cristã, foi não ter voz própria ou nenhuma outra personagem que a defendesse. Além
disso, um homem do século XIX num Brasil ainda Império e escravidão, jamais a
deixaria se defender e preferia alijá-la muda para o exílio do que admitir
sequer a possibilidade de ter sido traído e assim se expor à execração pública.
A dúvida de
Bentinho, mantida em segredo, transformou-o em Casmurro e consagrou o autor
como sutilíssimo mestre na arte de seduzir o leitor com imensa simplicidade.
Considerado por muitos uma obra-prima, Dom Casmurro creditou a Machado de Assis
as influências sobre algumas idéias escritas por Freud posteriormente e
perceptível também em escritores como John Barth e Graciliano Ramos, além de
inúmeros estudos psicológicos e sociais, traduções em diversos idiomas e
adaptações para outras mídias.
Pubicada simultaneamente no site
espanhol “Poetas Trabajando”: http://www.poetastrabajando.com
e na Revista brasileira CAPITA
Global News: http://www.capitaglobalnews.com.br/
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