As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Olhos de cigana



Imagem: Google/Divulgação

Tinha uns treze ou catorze anos, quando li Dom Casmurro, por indicação da escola. Devorei o livro, apesar dos 148 capítulos, ainda sem suspeitar que se devesse à genialidade de Machado de Assis, ao criar o narrador em dois tempos distintos de sua vida, como se fossem dois nele mesmo. Foi inevitável identificar-me com a Capitu do início da trama, brincalhona e curiosa, daquelas que querem saber de tudo. E não há como negar que toda mulher, ainda que menina, queira dominar a arte da sedução para se fazer atraente aos olhos de um homem. A personagem é tão vívida, que tinha a certeza de que ela existiu um dia, no Rio de Janeiro de 1857.

Muitos anos mais tarde, refazendo o olhar com outro enfoque sobre a obra, pude tecer várias análises. A primeira delas me fez concluir definitivamente pela existência de Capitu. Não como mulher de carne e osso, mas em todos nós, homens ou mulheres, na ambigüidade marcante em Bentinho e que nos foi ou é imposta, cultural e religiosamente, entre desejo e culpa. A punição de Capitu sob a ótica da culpa cristã, foi não ter voz própria ou nenhuma outra personagem que a defendesse. Além disso, um homem do século XIX num Brasil ainda Império e escravidão, jamais a deixaria se defender e preferia alijá-la muda para o exílio do que admitir sequer a possibilidade de ter sido traído e assim se expor à execração pública. 

A dúvida de Bentinho, mantida em segredo, transformou-o em Casmurro e consagrou o autor como sutilíssimo mestre na arte de seduzir o leitor com imensa simplicidade. Considerado por muitos uma obra-prima, Dom Casmurro creditou a Machado de Assis as influências sobre algumas idéias escritas por Freud posteriormente e perceptível também em escritores como John Barth e Graciliano Ramos, além de inúmeros estudos psicológicos e sociais, traduções em diversos idiomas e adaptações para outras mídias.


Pubicada simultaneamente no site espanhol “Poetas Trabajando”: http://www.poetastrabajando.com
e na Revista brasileira CAPITA Global News: http://www.capitaglobalnews.com.br/

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