Imagem: Postal de Buenos Aires –
Archivo general de La Nación
Havia
uma imensa tarde de sábado diante de mim, azul e fresca como se fazem no fim
dos outonos por essas terras e quando se está solitária, o tempo corre lento.
Pensei no quanto é interessante a expressão corriqueira, já que o lento não
corre, quando muito anda. Por uma reles analogia além do hábito, saí para
caminhar.
Busquei
ares diferentes, um lugar onde também pudesse exercitar o olhar. A Praça da
Liberdade com seus jardins cuidados, obras de arte e arquitetura dos prédios
das antigas Secretarias de Estado e do Palácio merecem sempre um olhar e o meu
especialmente, já que impregnada por minhas lembranças desde sempre.
Caminhei
por uma hora e meia, com certeza bem mais do que os sete mil passos diários
recomendados, o que saldava meus débitos e ainda deixava algum crédito. O
ambulante simpático ofereceu-me água mineral e procurei um banco à sombra.
Encontrei um jornal do dia e lembrei-me de quem jamais o esqueceria lá,
enquanto buscava as poucas matérias que não havia lido pela manhã.
Um
som familiar distraiu-me e baixando o jornal pude ver um casal de pombos
arrulhando carícias descuidadas bem perto dos meus pés. Mantive-me quieta
admirando a cena pouco comum nos passos apressados da capital. Ao mais leve
movimento, o casal bateu asas enquanto caiu sobre meu colo um cartão que estava
entre as páginas do jornal. Era um belo postal, uma foto antiga da Plaza de
Mayo. Depois de admirá-la por instantes, automaticamente olhei o verso. Lá além
da bela caligrafia, reconheci um trecho de Rubem Braga: Ide-vos, noivos
morenos, por Florida e Corrientes, ide-vos, felizes por todos os caminhos da
vida. Só vos invejarão os que também procuram ser felizes; minha longa tarefa é
outra, é não ser infeliz e me proteger e guardar, ser forte dentro de mim,
forte, quieto e sereno. É velho Braga, pensei, ainda há outras tantas
razões!
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