As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 16 de junho de 2013

Cartão Postal



Imagem: Postal de Buenos Aires – Archivo general de La Nación



Havia uma imensa tarde de sábado diante de mim, azul e fresca como se fazem no fim dos outonos por essas terras e quando se está solitária, o tempo corre lento. Pensei no quanto é interessante a expressão corriqueira, já que o lento não corre, quando muito anda. Por uma reles analogia além do hábito, saí para caminhar.



Busquei ares diferentes, um lugar onde também pudesse exercitar o olhar. A Praça da Liberdade com seus jardins cuidados, obras de arte e arquitetura dos prédios das antigas Secretarias de Estado e do Palácio merecem sempre um olhar e o meu especialmente, já que impregnada por minhas lembranças desde sempre.

 

Caminhei por uma hora e meia, com certeza bem mais do que os sete mil passos diários recomendados, o que saldava meus débitos e ainda deixava algum crédito. O ambulante simpático ofereceu-me água mineral e procurei um banco à sombra. Encontrei um jornal do dia e lembrei-me de quem jamais o esqueceria lá, enquanto buscava as poucas matérias que não havia lido pela manhã.



Um som familiar distraiu-me e baixando o jornal pude ver um casal de pombos arrulhando carícias descuidadas bem perto dos meus pés. Mantive-me quieta admirando a cena pouco comum nos passos apressados da capital. Ao mais leve movimento, o casal bateu asas enquanto caiu sobre meu colo um cartão que estava entre as páginas do jornal. Era um belo postal, uma foto antiga da Plaza de Mayo. Depois de admirá-la por instantes, automaticamente olhei o verso. Lá além da bela caligrafia, reconheci um trecho de Rubem Braga: Ide-vos, noivos morenos, por Florida e Corrientes, ide-vos, felizes por todos os caminhos da vida. Só vos invejarão os que também procuram ser felizes; minha longa tarefa é outra, é não ser infeliz e me proteger e guardar, ser forte dentro de mim, forte, quieto e sereno. É velho Braga, pensei, ainda há outras tantas razões!



Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 16/06/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário