As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Levemente invisível



Imagem: Lola e Charlie personagens de Lauren Child





Passava horas a fio, invertendo os papéis, contando histórias à minha avó materna. Certamente pouco nexo ou sequência lógica havia em minhas construções imaginárias, o que não a impedia de ouvir-me pacientemente enquanto se ocupava de suas tarefas domésticas. Segui como única filha durante cinco anos e apesar disso, em minhas brincadeiras solitárias, nunca estive sozinha. Havia uma menina, de quem nunca soube o rosto - apenas as tranças e fitas - que andava descalça cantando músicas de roda, subia em árvores e dançava balé quando eu tocava piano. Uma amiga inseparável e invisível. Acredite! Ou você não teve um amigo imaginário? Hoje, além de mim, só minha Mãe se lembra, que ela se chamava Eunice e não Elena.

Atualmente essa manifestação do imaginário infantil pode passar despercebida, já passamos parte de nosso tempo, maior ou menor, conversando com pessoas que nunca vimos, confidenciando com elas ou em relacionamentos virtuais, às vezes bastante íntimos. 

Fato é que os amigos imaginários vêm sendo estudados intensivamente há mais de cem anos, por uns poucos especialistas, como Piaget, por exemplo. Na maioria dos casos, é um fenômeno social, observado em crianças e adolescentes saudáveis, ajudando no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, predominando entre os primogênitos. Os pequenos sabem que o amigo de todas as horas e que atende pelo nome muitas vezes inusitado é “de mentirinha” e se divertem com sua criação, nem sempre secreta. Tanto sabem, que invariavelmente o sabido personagem desaparece quando a realidade bate à porta. Ao criar um amigo só para ela, a criança fica no controle da situação, poder que ela não tem em outras ocasiões. É nessa brincadeira que ela abre portas para dividir seus sentimentos de raiva, tristeza, angústia... Tudo muito saudável. É assim com Soren Lorensen, o amigo transparente de Lola, ambos personagens das histórias infantis de Lauren Child, escritora, que pelo nome e obra, jamais esqueceu como ser criança.

Publicada na revista CAPITA Global News em 03/05/2013.

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