Imagem: Casa de Pássaros – Martha
Barros
Lá vai a menina,
em seu vestido de chita, colorindo um verão de sua infância. Seca os longos
cachos ao vento quente que o sol sopra, depois da brincadeira no riacho que faz
curva que nem cobra de vidro cercando os fundos da casa. Sabe que a borboleta é
uma cor que voa e pouco mais sobre o mundo que vê na televisão, na pequena
cidade em que vive. Tudo aquilo que não sabe, inventa, fazendo com que seu
universo seja imenso. Inventa navios com pequenas latas flutuando na água rasa,
bonecas de gravetos, retalhos e meias velhas e se vê princesa, sem imaginar o
príncipe encantado, na carruagem de caixa de fósforos puxada por um besouro.
Deitada sob as
árvores do pomar desenha bichos e coisas nas nuvens de algodão que passeiam no
céu. É lá que passa horas pensando na escola da capital, transvendo uma história
sua que ainda está por escrever com as letras redondas e caprichadas que borda
no papel. Só mesmo morando com a Dinda, naquelas casas esquisitas empilhadas
sobre outras, que chamam apartamento. Terá que se acostumar a ficar sem o pomar
e as flores do jardim, o canto dos pássaros que pintam o azul, o som distante
do sino da igreja que anuncia o passeio na praça. Já sente saudades do algodão
doce que perfuma os domingos e de tudo o que tem aqui e não poderá levar junto.
Acorda do que
parece um pesadelo com a voz suave da mãe chamando-a de volta ao seu sonho.
Lembra que é dia de feira, enxuga a lágrima que seria rio e segue feliz para
ouvir as conversas das comadres, ver todos os verdes e o colorido doce das
frutas. Na volta, desinventa a chuva que armou e por não ter amanhecido, só
choverá em algum outro amanhã.
É cedo, menina!
Deixa que os traços os caminhos da vida desenhem.
Publicada na
Revista CAPITA Global News em 17/05/2013
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