As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 12 de maio de 2013

Às Moscas

 

Imagem: Fonte Google.



Em algum canto li que a primeira frase de uma crônica é sempre a mais difícil, assim como nem sempre são fáceis os prefácios e epílogos da vida. De certo, mananciais como Braga são raros, “sempre bom” e “quando não tem assunto, então, é ótimo”, com a permissão de  Manuel Bandeira. Enfim, confesso que amanheci com a imaginação às moscas. Talvez devesse ter acordado mais cedo para fazer o dia maior ou ouvir no rádio aulas de esperanto, como Sizenando.

 E com as moscas voei até Augusto Monterroso. O especialista em bichos capaz de fazer de um dinossauro o menor conto do mundo com suas sete palavras imensas, aconselha a todo aquele que se pretenda escritor a dedicar um poema, uma página, um parágrafo, uma linha ao menos às moscas. Dizia haver somente três grandes temas - o amor, a morte e as moscas – e como que fascinado, declinava dos dois primeiros pelas últimas, que considerava melhores do que os homens. Na idéia sobre uma antologia sobre as moscas, que concluiu praticamente infinita, exalta a importância atemporal do incômodo ser alado: "A mosca que hoje pousou no seu nariz é descendente direta da que pousou no nariz de Cleópatra."

Viro a página, folheio os jornais em vão; deparo-me com a apóstrofe acrescentada pela mosca à palavra escrita por Lydia Davis na página em branco, "A Mosca - No fundo do ônibus, no banheiro, este micropassageiro ilegal, a caminho de Boston". Preciso, definitivamente, aprender a ler os origamis filosóficos de Davis e decifrar seus cotidianos sentimentos apresentados em essência.

É Sizenando, por hoje passa! Amanhã madrugo, sem me importar que “haja milhões de brasileiros dormindo insensatamente, enquanto outros milhões tomam café ou banho de chuveiro ou já marchem para o trabalho”¹ e saio para caminhar. Quem sabe respiro o jardim da cultura, "plena de floroi" de Braga e me inspiro? No fim, sempre resta o esperanto.
  
¹Rubem Braga em “Sizenando, a vida é triste”, Rio, junho 1958, do livro “Ai de ti, Copacabana”, Editora Record.


Publicada na Revista CAPITA Global News em 12/ 05/2013


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