As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 12 de maio de 2013

Colheitas




                                                            Imagem: A colheita do algodão – Cândido Portinari.
 
               
Um dia você acorda. Pela manhã, diante do espelho, constata que o tempo amigo e condescendente, nos deixa seguir nos passos improvisados na melodia da vida e guardar em cada ruga a esperança menina, que já não ouve, mas conta suas próprias histórias e convive harmonicamente com nossas vivências. Entende que o mundo é senhor de si e a todos abriga com nossos infinitos universos individuais e que os sonhos colhidos fazem brotar outros das sementes de nossas escolhas.

 Bom é pensar na fecundidade do colher, palavra que sintetiza desde a seleção das sementes que se planta até seu amadurecimento e dá origem a outra, que considero das mais necessárias em nosso vocabulário afetivo. Acolher é receber o outro, sem reservas; o que alguns teóricos chamam de empatia e dito poeticamente, ver no outro a sua própria humanidade. Somam-se ainda, o dedicar-se a ouvir, doar o espaço necessário para a entrega mútua. E inevitavelmente o abraço, o colo, o carinho de um afeto despretensioso, absolutamente indispensável a todos nós. Quando nos encontramos assim, simplesmente gente buscando gente como iguais em suas sutis diferenças; o acolhido acolhe o acolhedor.

Versos de Helena Kolony¹ sussurram em minhas lembranças: "Poeira esparsa no vento/ apenas passamos nós./ O tempo é mar que se alarga/ no infinito presente." Os versos inspiram a compreensão de que somos nós que singramos o tempo, como naus traçando sua própria trajetória e trazem consigo alguns dos ensinamentos do pai em “Lavoura arcaica”, sobre como conviver com o tempo, sem contrariá-lo e mantendo-se atento ao seu fluxo.

Na travessia do tempo, que se estende como um espelho d’água diante de nós, há menos que se fixar no reflexo da própria imagem como Narciso e mais que cuidar da navegação, seja ela conduzida por bons ventos, remadas compassadas ou pulso firme nas tempestades. E sempre, sob sol ou noite enluarada, desfrutar as boas companhias da viagem.

¹ Helena Kolony, poetisa paranaense (1912-2004).
Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 12/05/2013

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