Imagem: Catedral de St. Paul, vista do
centro financeiro de Londres - Andy Spain
Fim
de tarde desse verão escaldante e enquanto caminho em busca de um oásis, que
possa refrescar-me o humor, lembro-me de algumas matérias que li nos jornais da
manhã e lamentavelmente traziam o mesmo tema. A primeira, no grande jornal
mineiro, denuncia o descaso com obras de arte nas praças e parques da capital. Um
dos exemplos é a rara escultura de Amilcar de Castro, deitada no pátio de uma
Escola Estadual, escondida pelo mato, apesar de ser peça das mais disputadas no
mercado de arte.
Nada muito diferente do que o noticiado no Rio de Janeiro sobre a Caixa
da Mãe D’Água, em Santa Teresa, construída em 1774, hoje, abandonada e que me
trouxe à memória, fotografias antigas de tantos outros monumentos, praças e
prédios históricos que foram demolidos na cidade maravilhosa.
Surpreendente foi deparar-me com
as fotografias de Andy Spain: Londres, desfigurada por demolições e obras,
ameaçando a beleza do conjunto arquitetônico da Catedral de St. Paul. Uma
Londres que Spain chama de invisível.
Finalmente
chego à lanchonete, que me oferece um refresco, abrigo e ar condicionado. Busco
um dos poucos lugares disponíveis; ainda tenho um bom tempo antes da reunião marcada
para as sete e meia. É inevitável observar a jovem que sorri para a própria
imagem no espelho e o homem sentado em frente à sua companheira, que pelas
expressões faciais de preocupação e dor, parecia estar numa discussão
existencial interior. A conversa mais animada que presenciei foi a dos
surdos-mudos na mesa ao lado.
É
como se ouvisse a amiga Ilce Borges, com seu sotaque gaúcho: “Às vezes fico
meio assombrada com o século XXI; estamos nos tornando invisíveis também. Se
não equilibrarmos o nosso viver com a tecnologia assustadora de que dispomos,
nos afastaremos cada vez mais das relações humanas e seremos seres autômatos.
As pessoas estão juntas mas não se veem, cada um conectado com sua ferramenta
tecnológica”.
Publicada em "O Pioneiro" em 24/02/2013
Especial amiga Monica!! Ficou ótima matéria.A preocupação de quem se sente saqueada pelo modelo da atualidade.Estarmos isolados mas ligados no moderno,no que nos absorve sem sutilezas,sem cerimônia.Como que controlados, nem percebemos.Vender e consumir,a nova ordem.E é,através dos olhos e da alma que aflora nosso sentir.Em cada obra que vemos abandonada,excluída de nós ,temos um sentimento de perda como se fôssemos o autor.Uma honra por lembrares dessa gaúcha,na tua primorosa reflexão e denúcia de valores.Parabéns Bj
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