Imagem: Ilustração de Gustave Doré em
Contos de Fada de Charles Perrault
No princípio, contam-lhe
histórias. Até um dia, em que depois de aprendidas, você mesmo adormece,
embalando com elas um sonho infantil. Assim é ou deveria ser com todos nós e
certamente é a partir daí que nascem os escritores em todos os gêneros de
expressão, seja na ciência, literatura ou poesia.
Pelo caminho, ainda hoje e para
muitos, ficam as crônicas, situadas em uma fronteira imaginária entre o
jornalismo e a literatura, a despeito inclusive dos imortais: Machado de Assis,
Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade, citando apenas alguns, por não ser
possível enumerar uma lista interminável de grandes nomes.
Sob essa ótica, o cronista não
se prende à exatidão necessária à informação, não noticia, apesar de muitas
vezes comentar temas do dia a dia, utilizando de figuras literárias e até
poéticas em sua narrativa, mostrando aos olhos do leitor, uma situação comum,
com um colorido especial e ângulo singular. Há análises ainda mais críticas,
que consideram a crônica uma produção curta e apressada, com linguagem
descompromissada, uma aparente “conversa fiada”; talvez uma sequela de suas
origens em folhetins, na Europa do século XVI.
A bem da verdade, no Brasil a
crônica tem uma boa história e até se poderia dizer que é um gênero brasileiro,
pela naturalidade com que se aclimatou aqui, influenciada por nossa cultura,
nossos “contadores de causos” e histórias de pescador. Chegou por aqui na
segunda metade do século XIX e era muito parecida com os textos publicados nos
jornais franceses. Com o passar do tempo, a crônica brasileira foi,
gradualmente, distanciando-se dessa influência e passou a ter um caráter mais
literário, de linguagem mais leve e envolvendo lirismo e fantasia, a poesia do quotidiano.
Certo, em minha opinião, é que se trata de um gênero leve, prazeroso para
quem escreve ou lê, sem qualquer barreira ou fronteira com o leitor, que para o
cronista é bem mais, um interlocutor.
Publicada na Revista CAPITA
Global News em 14/02/2013
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