Imagem:
Rio Piranga – Ponte Nova – Fotografia Sérgio Mourão
Era pouco mais do que uma menina
quando aprendi assim: Depois de escolhidas e limpas as goiabas mais madurinhas,
nativas no pomar do sítio, iam para o tacho de cobre fumegando no fogão a lenha,
com açúcar que fosse o bastante. As colheres de pau, esculpidas por meu pai,
tinham cabos enormes, para que não nos queimássemos enquanto o doce fervente espirrava.
E como espirra! O segredo é misturar o tempo todo e saber que quando as
borbulhas param de espirrar, já é ponto de doce de colher. Depois, um pote com
água fria por perto para se apurar a consistência desejada.
Interessante é saber que um dos
doces brasileiros mais antigos e populares, nasceu para aplacar o desejo dos
portugueses por doce de marmelo e que aqui nas Gerais encontrou seu par
perfeito, passando a ser conhecido como Romeu e Julieta.
Que nos perdoem os goiabeiros de
todos os cantos, mas a goiabada mineira, de Ponte Nova, foi escolhida como a
melhor do país e a de São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, goiabada de
cortar, é celebrada com festa e ganhou até selo de Patrimônio Imaterial.
Podem até dizer que é bairrismo,
mas por ser Carnaval, lembrei-me que esse doce sabor ganhou inclusive uma
marchinha, que retrata os hábitos de nossa gente simples como poucas: Rancho da
Goiabada, composta pelo mineiríssimo João Bosco, também de Ponte Nova. A bem da
verdade, uma parceria com o carioca Aldir Blanc, com quem compôs mais de uma
centena de canções, além de outras tantas com Vinícius de Morais, muitas delas
com interpretações belíssimas de Elis Regina.
Deixo aqui um trechinho, para
adoçar nossas lembranças de outros carnavais:
Os bóias-frias quando tomam umas biritas/
Espantando a tristeza/ Sonham , com bife à cavalo, batata frita/ E a sobremesa/
É goiabada cascão, com muito queijo, depois café/ Cigarro e o beijo de uma
mulata chamada/ Leonor, ou Dagmar.
Publicada no
Jornal “O Pioneiro” de 03-02-2013.
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