Imagem: Vaso de dálias e gerânios em
meu jardim – Raquel Taraborelli
Um recanto em que se respire o
verde das manhãs e se refresque o humor depois de um dia atribulado. Um desejo
bem comum àqueles que vivem em grandes cidades, cercados de concreto e tantas
vezes engaiolados.
A verdade é que a ideia de ter
um jardim para chamar de meu, vem me acompanhando insistentemente. Sem a
pretensão das maravilhas de Monet ou das cores de Burle Marx que perfumam as
curvas de Niemeyer por essas terras, vou planejando e escolhendo algumas, entre
as belezas que nossa exuberância tropical oferece.
Tal dedicação a um projeto que
ainda levará algum tempo até se materializar, levou-me a revolver os
pensamentos, em busca de suas raízes. Assim, deparei-me com um outro jardim, na
Atenas de 306 a.C, onde viveu o filósofo Epicuro, considerado um dos
precursores do pensamento anarquista no período clássico.
Em comum, os cálculos renais, o
que nos torna profundos conhecedores das dores humanas, nem sempre possíveis de
se evitar. Felizmente não são duradouras e podem ser suportadas com as
lembranças de bons momentos que o indivíduo tenha vivido. Piores e mais
difíceis de lidar são as dores que perturbam a alma. Essas podem continuar a
doer, muito tempo depois de terem sido despertadas pela primeira vez.
Como enfatizou o prazer, sua
doutrina foi muitas vezes confundida com o hedonismo. Mas o prazer de que
trata, é entendido como quietude da mente e o domínio sobre as emoções e,
portanto, sobre si mesmo; valorizando a vida simples, próxima à natureza e
considerando a saúde como nosso maior bem.
Enfim, entendi minhas motivações
e bem além disso, que para se ter o próprio jardim, não são necessárias flores,
canteiros ou árvores frondosas. Talvez seja por isso que os sabiás cantam em
minha janela nas manhãs ensolaradas e muitas vezes entram desavisados pela
casa, buscando por migalhas ou, quem sabe, pelo acolhimento de seus ninhos,
outrora em palmeiras.
Publicada
no Jornal “O Pioneiro” em 10/02/2013
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