As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Totem



Imagem: Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

  



     As cortinas se abrem lentamente e a expectativa aliviada pelos aplausos, antes mesmo que o espetáculo comece. Todo palco impõe uma distância, seja qual for o seu formato – grego, italiano e até mesmo as modernas conchas acústicas-,são projetados num plano ligeiramente mais alto do que a plateia. Ainda há a arquitetura magistral de muitos dos mais tradicionais teatros e casas de espetáculos em todo o mundo. As luzes, sons e cenários criam a magia e despertam fantasias.Da mesma forma, as salas de cinema, com suas telas gigantescas e o som envolvendo o espaço, apagam a plateia, que se entrega à trama e à interpretação dos atores.

     É nesse clima de encantamento que osartistas - nem sempre tão bons-, em todos os estilos e formas de expressão cultural, são levados ao estrelato e trazem atrás de si, um séquito, uma corte, que deixaram de ser chamados de plebe para tornarem-se fãs. Sim, fãs que se emocionam e chegam aos prantos em aeroportos e hotéisà espera de seus “ídolos”, bastando um aceno ou sorriso, para se ouvir um coro de gritos histéricos e até desmaios em série. E aí nos perguntamos: De onde vem esse culto, esse amor supremo, que deixa multidões em transe?

     Logo se pensa em histeria coletiva,amplamente estudada, tanto por Freud quanto por Jung, e que a grande maioria conhece, ao menos superficialmente o significado. Mas há um cerne, a origem desse tipo de comportamento:a necessidade inconsciente do ser humano, de criar e sustentar ídolos;até mesmo para melhor viver ou, ao menos, sobreviver; e que foi coibida por nossa cultura monoteísta, impedindo-nos de adorar nossos totens. Encontramos nas mais diversas formas de manifestação cultural, uma fuga da realidade, através de algo que apesar de ilusório, nos agrada e propicia prazer.

     Na verdade, seguimos – artistas e público- inconscientes desse jogo da fama, já que nosso show deve continuar!



Publicada na Revista CAPITA Global News em 28/02/2013

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