Foto: José Galvão -
Desmoronamento de encosta ao lado do Hospital São José/Colatina (ES)
Todos os anos a história se repete, as
mesmas chuvas, as mesmas imagens da tragédia que se misturam às nossas lágrimas
de solidariedade natalina. Todos os anos também, muitos se empenham
espontaneamente em enviar doações que possam dar algum conforto aos tantos
desabrigados acolhidos nos ginásios, escolas e galpões, que parecem ser sempre
os mesmos, lugares e rostos desolados, num déjà vu de cenas iguais e igualmente
lastimáveis. Às perdas materiais somam-se as mortes, irreparáveis perdas, que
se calam no lamento mudo dos sobreviventes desesperançados.
Todos os anos, também se ouvem as
incansáveis críticas aos governos - sejam de que partidos forem - a quem todos
nós responsabilizamos pelas carências e desastres sociais. Os recursos
prometidos para obras a serem feitas em tempo exíguo, muitas vezes escorrem com
as enxurradas e ninguém mais sabe de seu paradeiro, como se evaporassem quando
as chuvas cessam e os pobres coitados, sem voz e sem teto, deixam as manchetes
e seguem em busca de migalhas até resgatarem a notoriedade no próximo verão.
Do que se pode prevenir ou ao menos
minimizar pouco se fala, apesar de conhecidas as áreas de risco e de exaustivos
estudos sobre impacto ambiental. E nós, que nos livramos de todo o sofrimento comodamente
protegidos, consolamo-nos com a impossibilidade de agirmos individualmente na
prevenção das catástrofes naturais.
Dizem que todos devem plantar uma
árvore, ter um filho e escrever um livro. Não por acaso a máxima popular sugere
esta cronologia, já que a se manter o caminho trilhado em breve não haverá
livros e filhos por falta de árvores; estas que lhe dão o conforto da poltrona
em frente ao noticiário da tevê e as páginas do jornal que lê. As chuvas de
verão poderiam ser passageiros fenômenos da estação, se cada um plantasse sua
árvore numa encosta desbastada ou à margem de um rio careca. Simples como
cuidar das violetas em sua janela!
Publicada na Revista Capita News em
29/12/2013
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