As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 22 de dezembro de 2013

Papo cabeça

Imagem: Desenho em preto e branco – Diego Dias

 
Em uma tarde qualquer, uma amiga em sua mesa de trabalho foi surpreendida com o olhar perdido e a caneta pousada sobre um pedaço de papel. Percebendo os olhares curiosos quanto ao seu aparente e incomum alheamento, já que extremamente ativa, a jovem disse entre risos:

- Sei que preciso anotar algo muito importante que não posso me esquecer de fazer, mas não consigo me lembrar o que é.

- Pior sou eu, – respondeu a outra – escrevo lembretes e os guardo tão bem guardados, que os escondo de mim e nunca consigo achá-los.

Entrando no assunto, disse às duas que o meu salvador é o inseparável caderninho de notas, hábito de quem vem das gerações anteriores aos e-mails, celulares e toda a espécie de tecnologia que podemos utilizar como memórias auxiliares ou HD’s externos.

Desse ponto em diante passamos a conversar sobre as vantagens e desvantagens que vemos no uso excessivo desses recursos atualmente. A primeira observação veio de quem ainda não tinha entrado na história e que ponderou sobre o isolamento social que se observa em todo lugar, quando pessoas lado a lado não interagem entre si e se mantém ligadas exclusivamente às suas extensões eletrônicas.

Já aquela que esquece os próprios recados considerou que estamos ficando, especialmente os mais jovens, cada vez mais comodistas e preguiçosos, sem termos mais tanta necessidade de pensar, já que tudo que precisamos saber pode ser encontrado em segundos através de um clique. É evidente que há ressalvas quanto à qualidade das informações encontradas na rede, mas...

Fiquei eu a questionar se os idosos do futuro terão alguma lembrança ou memória já que praticamente tudo pode ser arquivado em arquivos virtuais de algum tipo. Disse quase tudo, porque para o que sentimos e vivemos, ainda não inventaram nada que resgate a intensidade dos momentos. No mais, que nos livrem os anos das artroses que nos impeçam de teclar.



Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 22/12/2013

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