Imagem: Fotografia de Paula Derenusson
17 horas. Lá estava eu diante do prédio imponente e perfeitamente
preservado. Tinha cuidadosamente planejado para que houvesse aquele fim de
tarde para conhecer El Ateneo, em Buenos Aires. De sua história sei ser uma
empresa sólida, com mais de cem anos de idade, que em 2.000 alugou um prédio
decadente que havia sido um teatro magnífico construído em 1.919 e depois um
cinema, transformando-o em uma das maiores e mais bonitas livrarias do mundo,
que conta com mais de 120.000 títulos em estoque.
A arquitetura, a abóboda pintada por Nazareno Orlandi uma alegoria
representando a paz ao fim da primeira guerra, as galerias e varandas
originais, a ornamentação intacta e até as cortinas de veludo me impressionaram
muito, como a qualquer turista, mas não me deliciaram mais do que o passeio
entre as prateleiras que durou horas, sem que visse o tempo passar.
Havia um silêncio obsequioso daqueles que costumam ouvir o que os livros
dizem e os poucos sons que se podia ouvir, além da música ambiente eram
murmúrios de admiração. Entre tantas a primeira sessão a chamar minha atenção
foi a dos grandes mestres da música clássica, seguida pelas magníficas edições
ilustradas com as obras dos maiores pintores de nossa história e depois, as
inúmeras e fantásticas publicações da Tashen sobre a arte da fotografia.
Em nenhuma das sessões, muitas delas com várias estantes, estive mais
tempo do que na de poesias. Admirei-me ao encontrar Vinícius de Moraes e João
Cabral de Melo Neto ao lado de E.E. Cummings, sem que houvesse um Drummond ou
Cecília. Lamentei serem tão poucos poetas naquela imensidão de livros, mas me
vi recompensada com uma reedição de Dante Alighieri e voei na “Arte de Pájaros”
de Neruda com ilustrações de Julio Escamez e Hector Herreira, em que o menor
dos poemas – Cisne – foi o que mais me encantou: Sobre la nieve natatória/ uma
larga pregunta negra.
Publicada na Revista Capita News em 20/12/2013
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