As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

sábado, 21 de dezembro de 2013

Avenida Santa Fé, 1860

Imagem: Fotografia de Paula Derenusson

 

17 horas. Lá estava eu diante do prédio imponente e perfeitamente preservado. Tinha cuidadosamente planejado para que houvesse aquele fim de tarde para conhecer El Ateneo, em Buenos Aires. De sua história sei ser uma empresa sólida, com mais de cem anos de idade, que em 2.000 alugou um prédio decadente que havia sido um teatro magnífico construído em 1.919 e depois um cinema, transformando-o em uma das maiores e mais bonitas livrarias do mundo, que conta com mais de 120.000 títulos em estoque.

A arquitetura, a abóboda pintada por Nazareno Orlandi uma alegoria representando a paz ao fim da primeira guerra, as galerias e varandas originais, a ornamentação intacta e até as cortinas de veludo me impressionaram muito, como a qualquer turista, mas não me deliciaram mais do que o passeio entre as prateleiras que durou horas, sem que visse o tempo passar.

Havia um silêncio obsequioso daqueles que costumam ouvir o que os livros dizem e os poucos sons que se podia ouvir, além da música ambiente eram murmúrios de admiração. Entre tantas a primeira sessão a chamar minha atenção foi a dos grandes mestres da música clássica, seguida pelas magníficas edições ilustradas com as obras dos maiores pintores de nossa história e depois, as inúmeras e fantásticas publicações da Tashen sobre a arte da fotografia.

Em nenhuma das sessões, muitas delas com várias estantes, estive mais tempo do que na de poesias. Admirei-me ao encontrar Vinícius de Moraes e João Cabral de Melo Neto ao lado de E.E. Cummings, sem que houvesse um Drummond ou Cecília. Lamentei serem tão poucos poetas naquela imensidão de livros, mas me vi recompensada com uma reedição de Dante Alighieri e voei na “Arte de Pájaros” de Neruda com ilustrações de Julio Escamez e Hector Herreira, em que o menor dos poemas – Cisne – foi o que mais me encantou: Sobre la nieve natatória/ uma larga pregunta negra.


Publicada na Revista Capita News em 20/12/2013

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