Imagem: Denise com carneiro branco – Cândido Portinari
Antes, criança era todo dia: pés descalços, pipa,
esconde-esconde, bola de gude, bonecas de pano e lápis de cor. Até que
inventaram de inventar dia para tudo, além dos santos. Na verdade, dia para
tudo que as consciências precisam ser lembradas dos cuidados e atenção que lhes
são devidos e ainda não encontramos o jeito de acolhê-los enquanto sociedade.
Nem é preciso enumerá-los, já que faltam dias em nosso calendário para tantas
faltas nossas, mas é sempre um bom exercício lembrá-los fora do dia que lhes é
dedicado.
Ah sim, as crianças!
Logo que criaram um dia só, só para elas, a máquina
que nos alimenta e consome, tratou de inventar uma maneira de amainar nossa
culpa, até mesmo para o que a própria máquina nos obriga a deixar faltar aos
pequenos. E sempre, daí em diante, antes mesmo que chegue outubro, nos
abastecem com milhares de pedidos de desculpas coloridos, de todas as formas e
preços, empilhados até o teto das lojas de brinquedos e de artigos infantis.
São as armadilhas do mercado consumidor a nos induzir à crença de que é
possível compensá-las pelo pouco tempo e disponibilidade que nos restam e por
uma lista imensa de faltas, incluindo o planeta que estamos deixando como
herança.
Ainda que não se possa reverter de todo a forma de se
comemorar a data que nos é imposta, há muito mais a ser feito além de comprar o
mais recente objeto do desejo infantil. Estimular a garotada na escola ou na
vizinhança a doar brinquedos para crianças carentes ou organizar feiras de
troca de brinquedos são ótimas opções. Somar um passeio ao ar livre num parque
com os amiguinhos ou uma pequena viagem no fim de semana também será muito bom.
E acima de tudo, dedicar a elas muito amor, atenção e respeito neste e em todos
os dias, salpicados com sorvete, pipoca e algodão doce.
Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 06/10/2013
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