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Onde você estava às 21 horas e quinze
minutos do dia 23 de fevereiro de 1995? Saberia responder de pronto e entre
sorrisos, já que a data me remete a um daqueles momentos inesquecíveis, entre
os mais felizes da vida. A pergunta entretanto, me veio zombeteira, ao sair das
dependências da Polícia Federal, onde estive para requerer meu passaporte.
Lá, tive a sensação de ser suspeita de
algo que não cometi, ao ser recebida pela atendente, não com um boa tarde, mas
com um ríspido comando:
-
Documentos!
Muito obediente e calada, apresentei
todos, que foram minuciosamente analisados, frente e verso, num silêncio que
nem as moscas ousariam interromper, até que a jovem perguntou-me sobre as
outras assinaturas que utilizei na vida e torceu o nariz para a minha carteira
de identidade, já um tanto gasta pelo tempo e uso. No diálogo que se seguiu,
chamou-me a atenção que todas as frases que ouvia como resposta eram negativas.
Até que dei-me por insatisfeita, guardei a papelada que havia levado e saí,
obrigada a reagendar o atendimento em outra data, trazendo tudo que comprovasse
a minha existência, já que a minha presença não bastava.
Na volta, depois de aceitar resignada a
perda de tempo, pensei em como as pessoas introjetam com tamanha facilidade os
papéis de autoridade nas instituições que representam o poder de toda natureza sobre o cidadão e o quanto nos fazem sentir coibidos diante de seus
comportamentos uniformizados, ainda que sem fardas ou patentes.
Logo me coloquei na posição de um suspeito
de fato. A depender da minha memória para datas, se precisasse de um álibi, melhor
que fosse numa manhã qualquer de uma tão decantada segunda-feira. Certamente
estaria entre os domingueiros de preguiça arrastada, embalados pelos apitos
incompetentes que tornam o trânsito ainda mais caótico, em alguma esquina,
entre o dever de ir e o desejo alado de estar em outro lugar.
Publicada no Jornal “O Pioneiro” em
13/10/2013
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