As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 13 de outubro de 2013

Álibi


Imagem: Google divulgação


Onde você estava às 21 horas e quinze minutos do dia 23 de fevereiro de 1995? Saberia responder de pronto e entre sorrisos, já que a data me remete a um daqueles momentos inesquecíveis, entre os mais felizes da vida. A pergunta entretanto, me veio zombeteira, ao sair das dependências da Polícia Federal, onde estive para requerer meu passaporte.

Lá, tive a sensação de ser suspeita de algo que não cometi, ao ser recebida pela atendente, não com um boa tarde, mas com um ríspido comando:

                - Documentos!

Muito obediente e calada, apresentei todos, que foram minuciosamente analisados, frente e verso, num silêncio que nem as moscas ousariam interromper, até que a jovem perguntou-me sobre as outras assinaturas que utilizei na vida e torceu o nariz para a minha carteira de identidade, já um tanto gasta pelo tempo e uso. No diálogo que se seguiu, chamou-me a atenção que todas as frases que ouvia como resposta eram negativas. Até que dei-me por insatisfeita, guardei a papelada que havia levado e saí, obrigada a reagendar o atendimento em outra data, trazendo tudo que comprovasse a minha existência, já que a minha presença não bastava.

Na volta, depois de aceitar resignada a perda de tempo, pensei em como as pessoas introjetam com tamanha facilidade os papéis de autoridade nas instituições que representam o poder de toda natureza sobre o cidadão e o quanto nos fazem sentir coibidos diante de seus comportamentos uniformizados, ainda que sem fardas ou patentes.    

Logo me coloquei na posição de um suspeito de fato. A depender da minha memória para datas, se precisasse de um álibi, melhor que fosse numa manhã qualquer de uma tão decantada segunda-feira. Certamente estaria entre os domingueiros de preguiça arrastada, embalados pelos apitos incompetentes que tornam o trânsito ainda mais caótico, em alguma esquina, entre o dever de ir e o desejo alado de estar em outro lugar.



Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 13/10/2013

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