Imagem: Foto de German Lorca
Muitas vezes, pouco se precisa para escrever uma crônica. A
motivação pode vir de uma imagem, uma cena cotidiana e de um sem número de
estímulos, como surgiu, numa boa conversa, uma pérola dita pelo amigo de tempos
que nem o tempo conta: “É, desconfio que não estamos ficando mais jovens.” Ao
riso imediato seguiram-se olhares silenciosamente pensativos que me trouxeram
bons argumentos para refletir depois, em duas linhas de raciocínio. Ambas
partem do princípio de que estamos sim, ficando jovens por mais tempo, tanto no
início quanto no fim da linha.
Na ponta de cá, vemos grande parte dos jovens de classe média
e alta espichando a adolescência e adiando as responsabilidades da vida adulta
e produtiva, apoiados na necessidade crescente de especialização que o mercado
exige a qualquer profissional que se pretenda bem sucedido. Com isto, quase
sempre o amadurecimento emocional fica aquém do que se espera, face à
dependência financeira da família ou pior, cria-se um embate constante entre o
desejo de independência e a impossibilidade de exercê-la.
No outro extremo, graças aos avanços científicos
especialmente na área da saúde, - tanto curativa, quanto preventiva - vemos
nossa expectativa de vida aumentando em qualidade e quantidade. Quem antes era
considerado idoso a partir dos cinqüenta, hoje será visto em academias ou
pedalando, além de administrar dinâmica e produtivamente sua carreira e vida
afetiva. Na prática, trocamos os chinelos pelos tênis. De novo percebemos a
influência do way of life que o capitalismo nos impõe ao ficarmos - por
sorte ou oportunidades - por mais tempo no mercado de trabalho apesar de, nem
sempre ser uma opção e sim por uma necessidade imposta pela
desproporcionalidade entre os valores das aposentadorias e os planos de saúde.
Sem contar com o fato de que muitas vezes estamos financiando a formação de
nossos jovens, filhos ou netos, ponto em que os extremos da linha se enlaçam.
Publicada
na Revista CAPITA News em 28/10/2013
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