As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 27 de outubro de 2013

Histórias para contar



 Imagem: Google/Divulgação


Finalmente consegui agendar novo atendimento para requerer o tão sonhado passaporte. Desta vez munida de todos os documentos possíveis e imagináveis, faltando-me somente os brasões e uma muda da árvore genealógica da família. Talvez fosse prudente levar uma pequena autobiografia, já que seria indubitavelmente original, sem as polêmicas que dividem opiniões atualmente.

A espera pelo atendimento foi longa apesar do horário marcado e não havendo o que fazer, criei uma história resumida sobre mim, que poderia ser útil para melhorar o humor da atendente, já que quase sempre são inaptas e despreparadas para lidar com pessoas, repetindo frases automáticas e decoradas com o detestável gerundismo.

Algo mais ou menos assim: Era uma vez uma menina, que por sorte e muito empenho dos que a antecederam, nasceu em berço mais confortável do que a maioria. Sonhou sonhos meninos que viveu intensamente em suas fantasias, enquanto os caminhos reais se desenhavam devagarinho a cada passo que inventava imaginando-se bailarina.

Tagarela e perguntadeira, mas mineira, logo aprendeu a buscar as respostas silenciosas dos livros e foi o saber calado que aprendeu neles, que iluminou a escrivaninha, quando lá fora era uma noite escura e triste, entrecortada por lamentos e dores, que pareciam não ter fim.

Quando finalmente anunciaram a manhã, percebeu as sementes já semeadas que exigiriam muito cuidado até que florescessem e seguiu fazendo o seu pouco, menos do que gostaria. Primeiro ouviu o choro desconsolado das crianças abandonadas e desvalidas; depois os brados adolescentes que clamavam às avessas, sedentos por seus direitos; e mais tarde as queixas aflitas dos doentes, amontoados em filas. Já não era a menina sonhadora dos primeiros tempos e anônima como abelha operária numa imensa colmeia, fez de seu trabalho aconchego e lenitivo para tantas dores.

Deixando pedrinhas coloridas por onde passou, agora pôde olhar para trás e ver-se trilhando passo a passo os caminhos que escolheu, reinventando outros tantos a percorrer.



 Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 27/10/2013

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