Imagem: Amêndoas – Van Gogh
Também
eu, queria chapinhar em poças d'água, saber universos nas pedrinhas brancas do
caminho, sem o coelho da Alice correndo com as horas apressadas atrás de
mim. Seria muito bom ter de novo aquela sensação de que o tempo passa manso e
que o próximo aniversário ainda está longe de chegar.
Falo de ansiedade sim, mas não só aquela
nossa, genuína. Há também a que nos é imposta, de fora para dentro. É esta que
nos faz sentir o quanto perdemos entre o início da linha e o ponto final nos
engarrafamentos inúteis nossos de cada dia. A vida moderna e especialmente a
globalização nos rouba em nosso tempo, com as mais variadas e imprevisíveis
situações, fazendo-nos sentir muitas vezes como se tivéssemos vivido um ano em
um dia.
Além disso, somos impelidos a produzir
cada vez mais e por mais tempo ao longo dos anos, para atender ao modelo
imposto e aos caprichos do mercado de consumo. O modelo a que me refiro é o que
aponta como objetivo maior o sucesso individual e para tanto, estudamos e nos
especializamos mais e nos dedicamos com afinco cada vez maior ao trabalho.
Pagamos com o que nos é mais caro por tudo que nos custa caro, muito mais do
que podemos comprar, mesmo que em suaves prestações.
Sei bem que não há novidades aqui e que
muitos são os que se dedicam a tratar seriamente sobre o assunto, sejam nas
ciências sociais ou humanas, nas mais diversas áreas de cada uma delas. Apenas
constato os caminhos, que muitas vezes sem escolha, sou obrigada a seguir sem
sequer ver a paisagem ao redor.
No fim das contas o que não quero é cantar
Titãs sobre o meu próprio epitáfio. O devia ter e os pretéritos imperfeitos não
me vestem bem. Neles cabe o que se deixou de viver e sentir sem o tempo para se
refazer.
Publicada no Jornal “O Pioneiro” em
04/08/013
Nenhum comentário:
Postar um comentário