As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Os caminhos de Pollyanna

Imagem: Eleanor H. Porter

A madrugada insone levou-me à modesta estante, morada dos livros aos quais não dei asas, em busca de um Borges que me acompanhasse até o amanhecer. A pouca iluminação do abajur me fez tatear entre eles quase às cegas, guiada pela lembrança de sua localização mais provável.

Acabei surpreendida ao encontrar outro que nem sabia mais lá: um exemplar adolescente da Pollyanna de Eleanor H. Porter. Não cabia uma releitura, mas ao abri-lo, senti como se estivesse folheando minhas recordações meninas.

Hoje poucos se lembram da história comovente e alegre da encantadora órfã, vivendo na casa da tia solteirona e rica. Menos se sabe ainda que a primeira tradução em português chegou-nos pelas mãos de Monteiro Lobato em 1934 e que se seguiram onze Pollyannas escritas por outras autoras como Elizabeth Borton, Harriet Lummis Smith, até a última versão na década de 90, de Colleen L. Reece.

O século XX foi realmente decisivo para a inserção da mulher em todos os cenários, sociais, políticos e culturais. Naturalmente o universo feminino foi descoberto como nicho de mercado, embora não houvesse ainda totalmente disseminado, o sincronismo que a globalização e a internet trouxeram.

Nesse sentido, há correlações interessantes. Enquanto as americanas incendiavam meio mundo - além de simbolicamente os sutiãs – as brasileiras suspiravam lendo fotonovelas. A partir do modelo italiano da década de 50 e da popularização do cinema, a revista Grande Hotel, precursora da Capricho, Sétimo Céu e outros vinte títulos encantaram o público feminino.

A maior contribuição das fotonovelas - assim como das Pollyannas - foi incrementar o hábito de leitura entre as brasileiras nos mais diversos níveis sócio-culturais, especialmente por suas edições baratas e acessíveis às de menor poder aquisitivo. Definitivamente uma grande evolução em um Brasil de alto nível de analfabetismo.

Amanhecia quando fechei o pequeno livro amarelecido e o devolvi carinhosamente ao seu espaço na estante. Borges me acompanharia em outra madrugada.



Publicada na Revista CAPITA Global News em 08/082013

Nenhum comentário:

Postar um comentário