Imagem: Google/divulgação
Vinha
de um círculo de debates e leituras filosóficas que precisam decantar a seu
tempo. Pensei ser necessário desligar-me por uns dias do estudo pesado e
mergulhar no corriqueiro da vida. Adormeci com desejos de certa poltrona, ainda
aquém dos dias que se fazem caminho para que se torne realidade.
Na
manhã fria e azul de fim de inverno, pouco depois do café e da propaganda de
margarina que antecedia o telejornal, já pude me perceber na contramão do que
esperava ser o dia. A sequência de sorrisos plásticos dos comerciais trouxe com
ela a reflexão sobre a tirania da felicidade, esta imposta de fora para dentro
pelos meios de comunicação, com o sabido objetivo de tornar a massa refém de
tudo o que se pode comprar, na ilusão de alcançar essa tal felicidade.
Disseminou-se
em nosso tempo a obrigação de ser feliz ou ao menos parecer ser, revelada sob
os véus de Maia, que ocultam os próprios umbigos, apesar de serem eles a
intenção primeira. Assim é mostrada a si mesmo e ao outro somente a imagem que
o mundo capitalista e globalizado espera de cada um e que se confunde com a do executivo
bem sucedido: bonito, bem vestido, seguro de si, realizado e resolvido
afetivamente e com aquela estrelinha dos cremes dentais brilhando no sorriso.
Certos
estão muitos estudiosos, os psicanalistas principalmente, que sugerem que
abandonemos o termo, já que atualmente tornou-se uma mercadoria capaz de vender
outras mercadorias e não se pode acreditar a vida, esse conjunto de
necessidades e acasos, como motivo em si mesmo que assegure a plena felicidade,
tornando-nos cegos às tantas misérias da humanidade.
Foi
a este lugar que chegamos, depois de pensarmos por dois milênios sobre a utopia
da felicidade - esta que Kant disse não existir – e a buscarmos narcisicamente
em nós mesmos, tornando o outro, que pretende nos impor seus paradigmas, o
próprio inferno de Sartre.
Publicada na
Revista CAPITA Global News em 22/08/2013
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