As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

E essa tal felicidade?

Imagem: Google/divulgação
               
Vinha de um círculo de debates e leituras filosóficas que precisam decantar a seu tempo. Pensei ser necessário desligar-me por uns dias do estudo pesado e mergulhar no corriqueiro da vida. Adormeci com desejos de certa poltrona, ainda aquém dos dias que se fazem caminho para que se torne realidade.

Na manhã fria e azul de fim de inverno, pouco depois do café e da propaganda de margarina que antecedia o telejornal, já pude me perceber na contramão do que esperava ser o dia. A sequência de sorrisos plásticos dos comerciais trouxe com ela a reflexão sobre a tirania da felicidade, esta imposta de fora para dentro pelos meios de comunicação, com o sabido objetivo de tornar a massa refém de tudo o que se pode comprar, na ilusão de alcançar essa tal felicidade.

Disseminou-se em nosso tempo a obrigação de ser feliz ou ao menos parecer ser, revelada sob os véus de Maia, que ocultam os próprios umbigos, apesar de serem eles a intenção primeira. Assim é mostrada a si mesmo e ao outro somente a imagem que o mundo capitalista e globalizado espera de cada um e que se confunde com a do executivo bem sucedido: bonito, bem vestido, seguro de si, realizado e resolvido afetivamente e com aquela estrelinha dos cremes dentais brilhando no sorriso.

Certos estão muitos estudiosos, os psicanalistas principalmente, que sugerem que abandonemos o termo, já que atualmente tornou-se uma mercadoria capaz de vender outras mercadorias e não se pode acreditar a vida, esse conjunto de necessidades e acasos, como motivo em si mesmo que assegure a plena felicidade, tornando-nos cegos às tantas misérias da humanidade.

Foi a este lugar que chegamos, depois de pensarmos por dois milênios sobre a utopia da felicidade - esta que Kant disse não existir – e a buscarmos narcisicamente em nós mesmos, tornando o outro, que pretende nos impor seus paradigmas, o próprio inferno de Sartre.


Publicada na Revista CAPITA Global News em 22/08/2013

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