Imagem: Almoço dos Remadores – Renoir, 1880
Seria
um almoço comum numa segunda qualquer no restaurante de costume. A comida
cheirosa - bem feita – e o tratamento simpático e familiar davam o tom
aconchegante ao ambiente e tornaram-me cativa, antes mesmo que surgissem os
laços de amizade com as donas da casa: mãe e filha.
Sentei-me
à mesa com uma delas, como já era hábito. Com ela, outra amiga conversava
animadamente, sem se inibir com minha presença, ainda uma desconhecida. Falava com poucas vírgulas e muitas
exclamações, sobre seu novo amor, um amor vindo inesperadamente de uma relação
de amizade em seu passado.
Fiquei
apenas ouvindo inicialmente, motivada por toda aquela felicidade que
transbordava nela. Como foi bom ver o brilho apaixonado no ilhar daquela mulher
madura. Houve num momento de hiato em sua fala, a oportunidade para que
fossemos formalmente apresentadas.
Na
prosa que se seguiu pude vislumbrar nuances da mulher que é. Sua eloquência,
além da intensidade de sua vivência afetiva, vem da academia. Uma dedicada
professora universitária e orientadora de teses, que apesar da carreira sólida,
da responsabilidade e da carga horária apertada, cogita inclusive em abandonar
tudo para viver seu grande amor.
Contou-nos
o quanto o novo relacionamento com seu Alan Delon - semelhança que talvez
somente ela encontre – tem lhe propiciado na busca do melhor de si, fazendo com
que retomasse a escrita não acadêmica e a leitura dos poetas preferidos,
esquecidos em algum lugar em sua juventude.
Acabamos
nos encontrando em comentários sobre Guimarães Rosa, Jorge Luis Borges e Mia
Couto, para citar apenas alguns. Quando nos despedimos apressadas, percebi que
passaríamos a tarde inteira entretidas em nossa descoberta como pessoas, não
fossem as obrigações que nos aguardavam.
Teria
sido um almoço comum de uma segunda qualquer, não fosse aquela presença
feminina tão viva e autêntica em sua felicidade madura e a oportunidade de
constatar algumas obviedades sobre as riquezas que as relações afetivas nos
propiciam.
Publicada
no Jornal “O Pioneiro” em 11/08/2013
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