As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 11 de agosto de 2013

Na hora do almoço

Imagem: Almoço dos Remadores – Renoir, 1880
               
Seria um almoço comum numa segunda qualquer no restaurante de costume. A comida cheirosa - bem feita – e o tratamento simpático e familiar davam o tom aconchegante ao ambiente e tornaram-me cativa, antes mesmo que surgissem os laços de amizade com as donas da casa: mãe e filha.

Sentei-me à mesa com uma delas, como já era hábito. Com ela, outra amiga conversava animadamente, sem se inibir com minha presença, ainda uma desconhecida.  Falava com poucas vírgulas e muitas exclamações, sobre seu novo amor, um amor vindo inesperadamente de uma relação de amizade em seu passado.

Fiquei apenas ouvindo inicialmente, motivada por toda aquela felicidade que transbordava nela. Como foi bom ver o brilho apaixonado no ilhar daquela mulher madura. Houve num momento de hiato em sua fala, a oportunidade para que fossemos formalmente apresentadas.

Na prosa que se seguiu pude vislumbrar nuances da mulher que é. Sua eloquência, além da intensidade de sua vivência afetiva, vem da academia. Uma dedicada professora universitária e orientadora de teses, que apesar da carreira sólida, da responsabilidade e da carga horária apertada, cogita inclusive em abandonar tudo para viver seu grande amor.

Contou-nos o quanto o novo relacionamento com seu Alan Delon - semelhança que talvez somente ela encontre – tem lhe propiciado na busca do melhor de si, fazendo com que retomasse a escrita não acadêmica e a leitura dos poetas preferidos, esquecidos em algum lugar em sua juventude.

Acabamos nos encontrando em comentários sobre Guimarães Rosa, Jorge Luis Borges e Mia Couto, para citar apenas alguns. Quando nos despedimos apressadas, percebi que passaríamos a tarde inteira entretidas em nossa descoberta como pessoas, não fossem as obrigações que nos aguardavam.

Teria sido um almoço comum de uma segunda qualquer, não fosse aquela presença feminina tão viva e autêntica em sua felicidade madura e a oportunidade de constatar algumas obviedades sobre as riquezas que as relações afetivas nos propiciam.



Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 11/08/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário