As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Talvez

Imagem: Paintings books – Van Gogh

Talvez não tenha lido Guimarães Rosa como deveria, por ter sido plantada nas terras das Gerais e regada por histórias de antes, de coronéis e jagunços, além dos resquícios ambulantes deles que tive o desprazer de ver pelas ruas desfilando seus mandos e desmandos, orgulhosos por serem temidos por uma fieira de desafetos. Além disso, meus ouvidos desde cedo se habituaram à fala entoada em muitos tons e aos termos típicos tão familiares e diversos nas andanças por esses rincões.

Talvez por concordar que as palavras que já existem bastam para dizer o que se consegue e o que é proibido, como disse Clarice Lispector e como ela tenha ousado saber pensares distantes dos meus, para além do pensamento, lá onde não há mais palavras, onde se é essência, saberes de tempos outros e de além-mar.

Apesar dos pés no chão, talvez tenha alçado o olhar através do horizonte mediterrâneo em busca do cheiro de mar que Jorge Amado me trazia, subversão permitida entre as leituras ditadas entre tantas que nos eram proibidas.

Sinto como essa gente simples - que sou - o sabor do angu com couve, que mesmo apreciado no mesmo prato, guarda sabores particulares, únicos em cada um de nós. Mas ouso como Ophélia nas letras bordadas em cartas ao seu Fernando, apesar de tantos e busco entender o que dizem os papiros, as melodias de liras, os versos antigos esparsos pelo tempo e as histórias de saber e de saber contar.

São devaneios e conjeturas de quem se lê enquanto se escreve desde miúda, ouvindo das histórias os princípios e tecendo na imaginação menina as suas dentro de outras tantas. Foram muitas léguas a entortar caminhos, mas hoje sigo o rumo antes traçado, amadora de e nas letras, rompendo fronteiras próprias enquanto for esse pouco ou quase nada, poeira na estrada desses sertões que fazem distâncias, um assobio no vento talvez.



Publicada na Revista Capita News em 13/11/2013

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