Imagem: Paintings books – Van Gogh
Talvez não tenha lido Guimarães Rosa como deveria, por ter
sido plantada nas terras das Gerais e regada por histórias de antes, de
coronéis e jagunços, além dos resquícios ambulantes deles que tive o desprazer
de ver pelas ruas desfilando seus mandos e desmandos, orgulhosos por serem
temidos por uma fieira de desafetos. Além disso, meus ouvidos desde cedo se
habituaram à fala entoada em muitos tons e aos termos típicos tão familiares e
diversos nas andanças por esses rincões.
Talvez por concordar que as palavras que já existem bastam
para dizer o que se consegue e o que é proibido, como disse Clarice Lispector e
como ela tenha ousado saber pensares distantes dos meus, para além do
pensamento, lá onde não há mais palavras, onde se é essência, saberes de tempos
outros e de além-mar.
Apesar dos pés no chão, talvez tenha alçado o olhar através
do horizonte mediterrâneo em busca do cheiro de mar que Jorge Amado me trazia,
subversão permitida entre as leituras ditadas entre tantas que nos eram
proibidas.
Sinto como essa gente simples - que sou - o sabor do angu com
couve, que mesmo apreciado no mesmo prato, guarda sabores particulares, únicos
em cada um de nós. Mas ouso como Ophélia nas letras bordadas em cartas ao seu
Fernando, apesar de tantos e busco entender o que dizem os papiros, as melodias
de liras, os versos antigos esparsos pelo tempo e as histórias de saber e de
saber contar.
São devaneios e conjeturas de quem se lê enquanto se escreve
desde miúda, ouvindo das histórias os princípios e tecendo na imaginação menina
as suas dentro de outras tantas. Foram muitas léguas a entortar caminhos, mas
hoje sigo o rumo antes traçado, amadora de e nas letras, rompendo fronteiras próprias
enquanto for esse pouco ou quase nada, poeira na estrada desses sertões que
fazem distâncias, um assobio no vento talvez.
Publicada
na Revista Capita News em 13/11/2013
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