Imagem: Ouro Preto – Foto de Mônica Caetano Gonçalves
Ela era realmente especial, a começar pelo nome: Cerize,
minha avó materna. Entre suas tantas histórias, boas de contar, gosto de me
lembrar de sua fonte inesgotável de provérbios, ditos e termos populares sempre
prontos a serem disparados no momento oportuno. E logo em seguida ria, ria
muito, já que quem ri por último, ri melhor.
Certo é que quando pequena não entendia patavina e passava
horas dando tratos à bola, tentando analisar o sentido daquelas metáforas
todas. Crianças muitas vezes se apegam ao sentido literal da frase, chegando a
imaginar os pobres macacos, quietinhos, um em cada galho. E eu não fugi à
regra.
Demorei um pouco para entender quando me chamava de santinha
do pau oco, quando aprontava das minhas, mas nem tanto quanto saber a origem do
termo. Alguns anos mais tarde, morando em São João d’El Rei, pude ver os tais
santos esburacados recheados pelos contrabandistas dos séculos XVIII e XIX com
ouro em pó, moedas e pedras preciosas que enviavam para Portugal.
Os ditados populares permanecem iguais por anos a fio,
mantendo tradições morais, filosóficas e religiosas. Muitos historiadores e
escritores se dedicam a descobrir as origens dessa riqueza cultural, mas não é
tarefa fácil. Deve ter havido uma viagem no tempo até que se concluísse que a
expressão “farinha do mesmo saco” vem de uma frase em latim “Homines sunt
ejusdem farinae” e do costume de se qualificar e separar as farinhas melhores
das piores. Eu mesma cansei de tentar descobrir de que cor seria o burro
fugido, até saber que originalmente seria “Corra do burro quando ele foge”, um
bom conselho já que burro bravo é perigoso mesmo. A tradição oral modificou a
frase e no fim das contas o que era verbo virou cor.
Dito e feito. Dos tantos que aprendi com Vó Cerize, restou o
hábito de lembrá-los a cada vez que o momento se ofereça.
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