As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O Outro

Imagem: Edward Hopper – Night on the El Train, 1918


É bem provável que estejamos vivendo na mais egoísta das épocas. A busca da liberdade através da afirmação da individualidade parece ter atingido um nível extremo em que é confundida com o individualismo, expressando-se através de um egocentrismo exacerbado. Como consequência há cada vez mais solitários e pior, por opção pessoal, como se liberdade e solidão fossem indissociáveis.

Fiquei pensando sobre esta questão, depois de uma conversa com um amigo que me enviou um vídeo sobre a sexualidade no Japão atual, ou melhor, sobre a falta crescente de relacionamentos afetivo-sexuais. Lá, chegam a pagar para acariciar gatos como substitutivo do aconchego de uma relação interpessoal – disse-me ele, sem esperanças de que haja como reverter este tipo de comportamento em nossa civilização a não ser depois que uma grande tragédia atinja a humanidade.

São muitas as formas de analisar a questão, desde o medo do sofrimento advindo das relações sociais – o medo do homem pelo homem – definido por Freud, até avaliarmos em que medida este isolamento absurdo atende aos interesses do poder. Associando as duas vertentes pode-se supor o quanto é vantajoso transformar a libido em força de trabalho e assim também desfavorecer a formação de grupamentos humanos em torno de um sentir ou pensar comum.

Acredito, apesar da opinião do amigo de longas conversas, que em algum momento próximo se iniciará um movimento reverso, já que a história do comportamento social mais parece um eletrocardiograma, com picos quase sempre antitéticos, seja nos costumes ou manifestações afetivas. Aos poucos e individualmente a insatisfação pessoal pelo distanciamento que criamos entre nós, ensejará a mudança. Não há como negar as pulsões primordiais, sexuais para além do sexo e a busca do prazer que não seja somente uma satisfação imediata do desejo. Logo poderemos ser surpreendidos por uma reedição de Woodstock, que através de diversas tribos high tech reúna gerações numa nova era de paz e amor.



Publicada na Revista CAPITA News em 05/11/2013

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