As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 21 de abril de 2013

Primeiros voos



Imagem: Crianças brincando – Grafite – Cândido Portinari.

Um dia eles chegam e se aninham na gente e como tudo que é vida - se não ceifarem suas raízes - , germinam, brotam e nascem. Tudo que necessitam é acolhimento, nesse tempo em que o universo é peito de mãe. Logo, ensaios de passos, danças, correrias e voos imaginários, em um mundo de castelos e reis, mocinhos e bandidos, pura fantasia. Brincam brincadeiras que brincamos e desenham caminhos que percorremos.

O perceber sua fragilidade ingênua e amorosa, desperta em nós a criança que fomos e é esta que sonha com melhores condições de vida e se responsabiliza em conduzir os pequenos, enxugando-lhes as lágrimas e curando-lhes as dores do crescimento. 

Assim, certamente descreveriam muitos pais, mães e avós, no seio de famílias estruturadas sócio, econômica e financeiramente. Mas há que se pensar nas abandonadas, sem berço; nas maltratadas; nas que são exploradas como mão-de-obra na infância: uma de nossas questões sociais sem solução adequada, em que pesem as tentativas de grupos e organizações de boa-fé e dos que atuam na área de assistência à infância e adolescência nas esferas de governo.

Então, me vem a discussão sobre a maioridade penal no Brasil. Como se possível, por lei ou decreto, um adolescente imaturo física e emocionalmente se tornar adulto da noite para o dia. Entre as várias críticas cabíveis, o caráter meramente punitivo da proposta, que desconhece os direitos e, que se aprovada, atingirá especialmente os já dolorosamente punidos por tantas carências, em sua tão curta trajetória de vida. Não se considera ainda, que a maioridade é um rito de passagem em nossa cultura, que além das responsabilidades, vem carregada de simbolismos sob o ponto de vista psicológico e social.

Quem dera todos, mesmo os inesperados, fossem amados e assistidos no espetáculo único do desenvolvimento humano e tivessem, olhos e mãos de vida inteira, que os conduzissem, antes e desde o primeiro voo, sempre.



Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 21/04/2013

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