As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Muito além



Imagem: Montgomery Clift em “Além da Alma”

                           
Habitualmente revejo alguns filmes, buscando refinar o olhar em detalhes despercebidos anteriormente. A maioria deles nunca foi um sucesso hollywoodiano de bilheteria, tampouco americano. Dia desses assisti Cet obscur objet du désir, último filme de Luis Buñuel, numa produção franco-espanhola, incitada pelo olhar analítico sobre a obsessividade. 

Já com saudades dos estudos psicanalíticos, projeto a ser retomado em breve, e por associação óbvia, revi Além da Alma, dirigido por John Huston, com uma magistral interpretação de Montgomery Clift. Um roteiro cuidadoso, que além de focar os caminhos iniciais da Psicanálise, mostra o próprio Freud, humano, defrontando-se com seus próprios sonhos e desejos reprimidos.

Poucos sabem entretanto, que Huston encomendou o roteiro a Sartre, por admiração ao Papa do Existencialismo, depois de ter montado sua peça Entre Quatro Paredes. Seria uma parceria e tanto! Sartre apresentou um calhamaço infilmável, tanto que depois seria publicado, um livro de 640 páginas. Houston foi adaptando, picotando daqui e dali, a ponto de Sartre proibir que seu nome figurasse nos créditos e comentar em Saint Germaindes-Près que diretores de cinema americano ficam tristes quando são obrigados a pensar.

Nada desmerece o filme, mas comparando-se ao roteiro original, poucas são as semelhanças. O livro, apesar de extenso, foi escrito após um estudo aprofundado sobre Freud e sua obra, com uma compreensão exata de suas ideias para se repensar e sentir a humanidade.

Interessante e menos sabido ainda, é a coincidência, de fato histórica, de a teoria psicanalítica ter sido adaptada, picotada e reinterpretada pela cultura americana. As primeiras versões trazidas pelos Estados Unidos perderam e muitas vezes pularam muito do significado original, refletindo o puritanismo e rigor americano e alterando a maneira de conduzir os processos psicanalíticos. Lá, a Psicanálise tomou outros rumos e o próprio Freud, decepcionado depois de algumas viagens à América, desistiu de clarear a visão equivocada de suas teorias.

A arte, ainda que incidentalmente, imita a vida.

Publicada na Revista CAPITA Global News em 17/04/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário