Imagem: Montgomery Clift em “Além da
Alma”
Habitualmente
revejo alguns filmes, buscando refinar o olhar em detalhes despercebidos
anteriormente. A maioria deles nunca foi um sucesso hollywoodiano de
bilheteria, tampouco americano. Dia desses assisti Cet obscur objet du désir,
último filme de Luis Buñuel, numa produção franco-espanhola, incitada pelo
olhar analítico sobre a obsessividade.
Já
com saudades dos estudos psicanalíticos, projeto a ser retomado em breve, e por
associação óbvia, revi Além da Alma, dirigido por John Huston, com uma
magistral interpretação de Montgomery Clift. Um roteiro cuidadoso, que além de
focar os caminhos iniciais da Psicanálise, mostra o próprio Freud, humano,
defrontando-se com seus próprios sonhos e desejos reprimidos.
Poucos
sabem entretanto, que Huston encomendou o roteiro a Sartre, por admiração ao
Papa do Existencialismo, depois de ter montado sua peça Entre Quatro Paredes.
Seria uma parceria e tanto! Sartre apresentou um calhamaço infilmável, tanto
que depois seria publicado, um livro de 640 páginas. Houston foi adaptando,
picotando daqui e dali, a ponto de Sartre proibir que seu nome figurasse nos
créditos e comentar em Saint Germaindes-Près que diretores de cinema americano
ficam tristes quando são obrigados a pensar.
Nada
desmerece o filme, mas comparando-se ao roteiro original, poucas são as
semelhanças. O livro, apesar de extenso, foi escrito após um estudo aprofundado
sobre Freud e sua obra, com uma compreensão exata de suas ideias para se
repensar e sentir a humanidade.
Interessante
e menos sabido ainda, é a coincidência, de fato histórica, de a teoria
psicanalítica ter sido adaptada, picotada e reinterpretada pela cultura
americana. As primeiras versões trazidas pelos Estados Unidos perderam e
muitas vezes pularam muito do significado original, refletindo o
puritanismo e rigor americano e alterando a maneira de conduzir os processos
psicanalíticos. Lá, a Psicanálise tomou outros rumos e o próprio Freud,
decepcionado depois de algumas viagens à América, desistiu de clarear a visão
equivocada de suas teorias.
A
arte, ainda que incidentalmente, imita a vida.
Publicada na Revista CAPITA Global News em 17/04/2013
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