As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Cenas da vida privada




Imagem: Litografia de Le Charivari – 1838



Por esses dias, chegou-me às mãos uma versão editada de um ensaio que Paulo Rónai escreveu para um ciclo de conferências no Teatro Municipal do Rio - “Balzac teatrólogo” - descoberto, obviamente inédito, nos arquivos do autor pela pesquisadora Zsuzsanna Spiry. Húngaro por nascimento e fugido da Segunda Guerra Mundial, Rónai radicou-se no Brasil, e especialmente em nosso meio literário, tornando-se amigo de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa entre outros tantos. Dedicou-se durante dez anos a prefaciar e coordenar a tradução de “Comédia Humana” de Honoré de Balzac, revisando seus oitenta e nove romances em dezessete volumes, além de debruçar-se junto com Aurélio Buarque sobre “Mar de histórias: antologia do conto mundial”, projeto que durou quarenta e quatro anos.   

Apresentado o autor, vamos ao ensaio e ao autor apresentado. Fala-nos das poucas e frustradas e poucas investidas de Balzac como dramaturgo, um fracasso tão grande que quase ninguém conhece suas peças, raramente representadas, mesmo na França. Há uma flagrante e surpreendente inferioridade das peças, se comparadas à sua monumental obra de ficção e que se deve, segundo Rónai, à visão deturpada do autor, que considerava o teatro à parte da literatura, como um empreendimento comercial muito lucrativo.

Entretanto, chamou-me bem mais a atenção, o homem por trás do literato. Aluno obscuro, abandonou a função de escrevente de cartório e enveredou em sua saga literária. Depois de “Cromwell”, seu primeiro fiasco, escreveu romances de cordel, usando pseudônimos e fracassou como editor, até que “Os chouans ou A Bretanha em 1799”, trouxe-lhe a notoriedade almejada.

Ambicioso, lançava-se em empreendimentos mirabolantes, fadados ao insucesso, buscando satisfazer sua sede de luxo. Ostentava carruagem e criado nobre em residências requintadamente mobiliadas, afundando-se cada vez mais em dívidas. Com a vida desregrada que levou, bem poderia ser, ele próprio, um entre seus três mil intricados personagens, partícipe de sua própria “Comédia Humana”.



Publicada na Revista CAPITA Global News em 25/04/2013.

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