Imagem: Mãos desenhando-se – M.C. Escher
Todos ouvimos ou lemos em algum lugar que
a vida é um livro com páginas em branco a ser escrito. O quê e o porquê são as
questões centrais e individuais. Seria um diário de bordo? Não, os dias corriqueiros
e as rotinas cotidianas se condensam em um único capítulo, bem parecido com os
“procedimentos operacionais padrão”, isso ou ISO a que estão obrigadas as
empresas segundo as normas de qualidade. Os melhores capítulos serão aqueles
que passam em lampejos em nossas memórias como estrelas cadentes ou - menos
poeticamente – como mini flashbacks.
É nesta linha que seguimos, os que nos
atrevemos a escrever - mais do que o próprio livro da vida – livros e páginas
impressas a serem lidas por outros, muitos ou alguns, seja como meio de
transmitir informação, conhecimento ou entretenimento e acima de tudo assegurar
o registro histórico e cultural, o dito “zeitgeist” da língua germânica, a
melhor síntese linguística para o espírito de um dado momento em determinado
tempo e lugar.
Exatamente aí estão os cronistas,
dedicados ao estilo literário ainda sem reconhecimento unânime. Crônica vem de
Cronos, deus do tempo na antiguidade clássica, Saturno para os gregos. Ao
cronista cabe escrever inclusive sobre mitologia, mas especialmente sobre
assuntos do tempo, este efêmero e etéreo que ultrapassa a tudo e todos. Assim,
presume-se que a crônica acabe passando, como as notícias no dia seguinte.
Entre as grandes exceções, cito somente
dois, Drummond e Braga, mestres nos ensinamentos de Schopenhauer: “É preciso
ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a
receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura
atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela. É sempre melhor deixar
de lado algo bom do que incluir algo insignificante”. A eles uma adaptação dos
versos de Rimbaud: “Mudem nossa sorte, livrem-nos das pestes, a começar pelo
tempo”.
Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 09/02/2014
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