As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Há uma razão

Imagem: Mãos desenhando-se – M.C. Escher

Todos ouvimos ou lemos em algum lugar que a vida é um livro com páginas em branco a ser escrito. O quê e o porquê são as questões centrais e individuais. Seria um diário de bordo? Não, os dias corriqueiros e as rotinas cotidianas se condensam em um único capítulo, bem parecido com os “procedimentos operacionais padrão”, isso ou ISO a que estão obrigadas as empresas segundo as normas de qualidade. Os melhores capítulos serão aqueles que passam em lampejos em nossas memórias como estrelas cadentes ou - menos poeticamente – como mini flashbacks.

É nesta linha que seguimos, os que nos atrevemos a escrever - mais do que o próprio livro da vida – livros e páginas impressas a serem lidas por outros, muitos ou alguns, seja como meio de transmitir informação, conhecimento ou entretenimento e acima de tudo assegurar o registro histórico e cultural, o dito “zeitgeist” da língua germânica, a melhor síntese linguística para o espírito de um dado momento em determinado tempo e lugar.

Exatamente aí estão os cronistas, dedicados ao estilo literário ainda sem reconhecimento unânime. Crônica vem de Cronos, deus do tempo na antiguidade clássica, Saturno para os gregos. Ao cronista cabe escrever inclusive sobre mitologia, mas especialmente sobre assuntos do tempo, este efêmero e etéreo que ultrapassa a tudo e todos. Assim, presume-se que a crônica acabe passando, como as notícias no dia seguinte.

Entre as grandes exceções, cito somente dois, Drummond e Braga, mestres nos ensinamentos de Schopenhauer: “É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela. É sempre melhor deixar de lado algo bom do que incluir algo insignificante”. A eles uma adaptação dos versos de Rimbaud: “Mudem nossa sorte, livrem-nos das pestes, a começar pelo tempo”.


Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 09/02/2014

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