As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Uma doce história


Conversa de lavadeiras, aquarela - José Franz S. Lutzenberger


Repousa a nascente de águas cristalinas na Fazenda de Morro Queimado e da serra escorre em seu rumo, alheia a tantas histórias que ladearam ou navegaram em seu leito, hoje contadas e cantadas até pelas tagarelas lavadeiras em suas margens.
                Assim é a história do Rio Doce, que começou subindo contra a correnteza, rio adentro. Por ordem da Coroa Portuguesa, expedições e aventureiros arriscaram-se nos domínios dos botocudos, ameaçadores descendentes dos tapuias, segundo Aurélio. Uma ameaça somente vencida pela gentileza e simpatia no trato, como consta nos anais e que me remete a outro Buarque de Hollanda, o Sérgio e sua teoria do Homem Cordial, que tão bem descreve as gentes que habitam essas bandas.
                A busca era por pedras preciosas e ouro, concretizada uns duzentos anos depois do surgimento do povoado, que pelo triunfo dos colonizadores sobre os silvícolas, passou a se chamar Vitória, nome que preserva até hoje. O fato é que a capitania do Espírito Santo, como ponto de partida e defesa contra possíveis invasões, propiciou o surgimento das ricas vilas mineiras e o ciclo do ouro, de onde se derramaria a Inconfidência mineira.
                E seguiu seu curso o Nilo Brasililense, fazendo brilhar a luz no farol em Regência, abrindo os caminhos do ferro de Minas para o mundo e levando o vaporzinho Juparanã para longos passeios.
                Por certo acompanhou os passos de Chico Rei, quando ainda Galanga e guardou as memórias de tantos nordestinos que cruzaram seus caminhos. Foi, tempo afora, misturando cores, origens e culturas, enriquecendo suas águas e forjando sua identidade única, como conhecemos hoje.
                Por mim, está explicada e sacramentada, a proximidade mais do que geográfica dos dois estados, integrados pelo rio das águas doces que entrelaçou suas histórias, fazendo o mineiro sentir-se meio dono das praias capixabas e até aquela conversa, que ouvi de soslaio, dos mineiros, que cansados dos belos horizontes, aportaram de vez em Vitória.

Publicado em "O Pioneiro" em 16/09/2012



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