Ilustração: Garimpeiros – Cândido
Portinari
Azuis, do nascer do dia ao profundo breu; verdes, em tons
crescentes; amarelos, rosas ou vermelhos em nuances tantas quantas há na paleta
do artista ou nos jardins de Monet, surgem dos túneis estreitos, abertos a pás,
picaretas e suor abundantes, as preciosas turmalinas, nome originário da
cingalesa turmali, pedras coloridas vindas do Sri Lanka e lá chamadas de
“toramalli”. Uma antiga lenda egípcia atribui a sua imensa variedade de cores à
longa viagem desde o centro da terra, passando por muitos arco-íris.
Essas
preciosidades, que brotam pelo Brasil, no Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, Rio
Grande do Norte, Paraíba e em nosso Espírito Santo, além das Minas que são
Gerais, eram tão pouco valorizadas aqui, que por muito tempo foram usadas para
limpar cachimbos. Recentemente, sua beleza foi descoberta pelos chineses,
causando uma verdadeira revolução no mercado dessas gemas, hoje vendidas aos
montões a um preço exorbitante, aos insuspeitos compradores orientais espalhados
por toda parte nas pequenas cidades, mal vestidos e de chinelos, dormindo até
no mato e falando pouco ou quase nada do idioma nativo. Mas não se iluda com
essas figuras anônimas, pagam em dinheiro vivo lotes e mais lotes da pedra
bruta.
Do outro lado do mundo, nossas turmalinas
geram joalheiros e lapidários (em extinção por aqui), uma mão de obra barata e precisamente
chinesa, criando jóias coloridas que fazem brilhar os olhares das vaidosas e
abastadas senhoras.
Enquanto isso, se quisermos ver os
multicoloridos cristais adornarem nossas beldades, teremos que importá-los a um
preço razoável de Moçambique e Nigéria ou até do Paquistão. É essa a mágica da
economia globalizada, que encanta a tantos fazendo desaparecer as divisas de
outros! Prefiro a lembrança dos versos que levam a “Assinatura” de Rodrigo
Petrônio:
Olho
no céu essa lua
Canteiro
de turmalina
Despeja
luz sobre tudo
Com
tinta branca se assina
No
livro mudo do mundo.
Em Jornal "O Pioneiro" 02/08/2012
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