Foto de Henri Cartier-Bresson – France
1932
Antes que fosse de alumínio ou se
chamasse magrela ou bike, era ele o menino que trocava a
bola pelas rodas de aros finos, que por pura magia, davam asas à sua
imaginação. Dizia a Mãe, que quando da chegada do irmão mais novo, perguntado
se queria ganhar um irmãozinho ou uma bicicleta, o pequenino, sem ponto ou
vírgula, escolheu sem pestanejar. Do parto complicado na madrugada, seu Pai, ajudando
a abrir as portas da loja, saiu de lá com ele, orgulhoso, exibindo seu prêmio
de rodas, ainda amparado por mais duas, que equilibravam as desajeitadas
pedaladas.
Cresceram
juntos e logo era ela que o levava à escola, feliz da vida! Nas tardes de
invernada, eram horas esquecidas no cantinho do puxado no quintal, alimentando
suas engrenagens, com a graxa que sempre visitava a ponta do nariz, para depois
da chuva estiada, sair espalhando poças de água fria.
Nos
longos passeios adolescentes, via o menino-homem fazer no movimento cadenciado
dos martelos que trazem o ouro negro das entranhas da terra, seus moinhos
quixotescos de sonhos e desejos, que o acompanhariam, como ela, anos afora.
Veio
o primeiro Amor e lá ia ela, vaidosa, enfeitada pelas flores que colhiam pelo
caminho para a casa da namorada. Conheceu a algazarra e as gargalhadas dos
amigos de juventude, a faculdade e as horas de lazer e descanso dos estudos.
Testemunha ocular do primeiro dia de trabalho no jornal, ouvia na volta para
casa as notícias diárias.
Mudou-se
para a casa nova depois do casamento e foram menos horas com ela, dedicadas à
jovem senhora. A alegria veio renovada com as crianças e a companhia dos
pequenos triciclos, como fossem seus filhotes.
Tempo
que passa ligeiro, como as estradas sob suas rodas. Hoje, ainda companheira,
aquece, com os primeiros raios de sol, as memórias bem vividas do homem maduro,
no fim de semana passeando pela praça.
Jornal "O Pioneiro" 09/09/2012
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