As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Sobre duas rodas

Foto de Henri Cartier-Bresson – France 1932

Antes que fosse de alumínio ou se chamasse magrela ou bike, era ele o menino que trocava a bola pelas rodas de aros finos, que por pura magia, davam asas à sua imaginação. Dizia a Mãe, que quando da chegada do irmão mais novo, perguntado se queria ganhar um irmãozinho ou uma bicicleta, o pequenino, sem ponto ou vírgula, escolheu sem pestanejar. Do parto complicado na madrugada, seu Pai, ajudando a abrir as portas da loja, saiu de lá com ele, orgulhoso, exibindo seu prêmio de rodas, ainda amparado por mais duas, que equilibravam as desajeitadas pedaladas.
                Cresceram juntos e logo era ela que o levava à escola, feliz da vida! Nas tardes de invernada, eram horas esquecidas no cantinho do puxado no quintal, alimentando suas engrenagens, com a graxa que sempre visitava a ponta do nariz, para depois da chuva estiada, sair espalhando poças de água fria.             
                Nos longos passeios adolescentes, via o menino-homem fazer no movimento cadenciado dos martelos que trazem o ouro negro das entranhas da terra, seus moinhos quixotescos de sonhos e desejos, que o acompanhariam, como ela, anos afora.
                Veio o primeiro Amor e lá ia ela, vaidosa, enfeitada pelas flores que colhiam pelo caminho para a casa da namorada. Conheceu a algazarra e as gargalhadas dos amigos de juventude, a faculdade e as horas de lazer e descanso dos estudos. Testemunha ocular do primeiro dia de trabalho no jornal, ouvia na volta para casa as notícias diárias.  
                Mudou-se para a casa nova depois do casamento e foram menos horas com ela, dedicadas à jovem senhora. A alegria veio renovada com as crianças e a companhia dos pequenos triciclos, como fossem seus filhotes.
                Tempo que passa ligeiro, como as estradas sob suas rodas. Hoje, ainda companheira, aquece, com os primeiros raios de sol, as memórias bem vividas do homem maduro, no fim de semana passeando pela praça.

Jornal "O Pioneiro" 09/09/2012


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