Imagem: Jornal "O Pioneiro" - 05 de agosto de 2012
Tive
a sorte, planejada por um Pai zeloso, de mergulhar desde as primeiras letras,
no imaginário mundo de Lobato.
Foi
inevitável a identificação com um dos personagens, que bem podia ser Narizinho,
mas se fez Emília. Segui assim, canalizando para a observação e análise, a
curiosidade, que em mim era e ainda é aguçada e natural.
Daí,
numa manhã adolescente, em meio aos estudos de biologia, a ideia inusitada, bem
ao estilo Emiliano, reformando a natureza:
-
Como seria se nós, humanos, ao invés de sermos mamíferos fossemos ovíparos?
De
imediato, além das risadas da professora e dos colegas, a visão de lindos e
macios ninhos, enfeitados com babados, fitas e rendas, verde água ou quem sabe
lilás. E lá fui eu pensando e discorrendo sem pontos ou vírgulas, como a boneca
falante de pano e olhos vivos e brilhantes de botão, sobre as vantagens
democráticas deste processo reprodutivo, em que o Pai poderia ser mais
participante, chocando em revezamento com a Mãe, lendo calmamente seu jornal
matutino e as avós, tias e madrinhas poderiam literalmente ‘babar o ovo’ do
futuro rebento. Sem contar que nos livraríamos das dores do parto, cesarianas,
estrias, ultrassonografias e inchaços.
E
o ovo mensal, se não galado, no sentido empregado no interior de Minas e não nos
diversos significados da gíria potiguar, seria simplesmente descartado, sem os
doloridos e decantados incômodos femininos.
Ainda
agora, escrevendo, investida de meus trapos coloridos, chega a ser divertido
pensar em quais seriam os rumos da ciência, quanto aos métodos de inseminação
artificial, dos embriões, que talvez nem precisassem ser congelados e das
pesquisas com células tronco, que certamente estariam bem mais avançadas.
Absolutamente
nada contra a natureza ou a evolução das espécies que guiou nossos rumos, são
somente boas e sorridentes lembranças, mas por certo, assim como nessa hipótese
estapafúrdia, a vida se faria, surrealista, como Dali, assistindo o nascimento
do novo homem.
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