As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 9 de março de 2014

Sonho e fantasia

Imagem: Tubiacanga - Google/divulgação


“Acabou nosso carnaval/ Ninguém ouve cantar canções/ Ninguém passa mais/ Brincando feliz/ E nos corações/ Saudades e cinzas/ Foi o que restou”, já dizia nosso poetinha em 1964, repetido pelo séquito de saudosistas – sem poesia – lamentando o fim do Carnaval, como manifestação cultural e genuinamente popular.

Não me faço surda às lembranças de serpentina e confete - “pedacinho colorido de saudade”-, dos arlequins, pierrôs apaixonados por suas colombinas e dos “mais de mil palhaços no salão”. Mas passou o tempo, mudaram os ares e a festa de Momo. Restaram os desfiles das escolas de samba para inglês (e o resto do mundo) ver, chamariz turístico high tech, promovendo celebridades instantâneas e corpos esculpidos instantaneamente. Um belo espetáculo sem dúvida, que lança no ar o perfume estilizado do que foram outros tantos carnavais.

Em meio às cinzas, duas centelhas reacendem a esperança de ver nascer um novo carnaval do e para o povo, nossa gente simples, comuns e incomuns.

A primeira delas, no Engenho de Dentro – RJ, é o bloco “Loucuras suburbanas”, criado com o objetivo terapêutico de reinserir pacientes psiquiátricos egressos do modelo institucionalizado arcaico em seu meio sociocultural, emprestando-lhes identidades novas através dos personagens da folia, com fantasias confeccionadas pela própria comunidade que os acolhe e com eles se integra na brincadeira sadia.

A outra, faísca em Tubiacanga, bairro quase clandestino e nômade da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, na Ilha do Governador, um pouco depois do apocalipse e antes do fim do mundo. Sem nem saber sobre a origem de seu nome, provavelmente esquecida em algum canto de nosso passado indígena, a Unidos de Tubiacanga, pequeno bloco de enredo - com um único e enferrujado carro alegórico – sonha grande. O presidente vaidoso proclama o desejo de sua gente de, quem sabe este ano, sair da quinta divisão do carnaval carioca subindo um degrau rumo à Sapucaí.


“Canta o meu coração”...

Publicada no Jornal "O Pioneiro" em 09/03/2014

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