Imagem: Cine Teatro Central em Juiz de Fora - MG
Surpresa? Foram centenas de bolhas de
sabão invadindo alegremente o ar cansado da cidade corrida entre a manhã e a
tarde de um dia qualquer. Eram dois os ambulantes – imitações de figuras circenses
– perambulando entre os automóveis e abrindo sorrisos infantis nos rostos
passantes. Algo que me lembrou Chaplin e seu humor inocentemente mudo.
Os tons de arco-íris que colorem as
películas de sabão esvoaçante levaram-me imediatamente às tardes de matinê dos
tempos de criança. Os cinemas de então eram verdadeiros palácios, finamente
decorados com afrescos coloridos em seus tetos, colunas em mármore e lustres
belíssimos, além – é claro – da insubstituível cortina de veludo vermelho. Todo
este luxo e requinte despertavam a magia do espetáculo e nossas mais
mirabolantes fantasias. Como todo palácio exige, havia um cerimonial que
antecedia a entrada neste reino em que nos era permitido saborear algumas horas,
esquecidos da realidade.
Primeiro, as longas filas para comprar os
ingressos, enquanto nos ofereciam guloseimas coloridas e doces. Era o momento
de se escolher entre as balas de goma ou as jujubas e os inesquecíveis dropes
“Dulcora”, que faríamos o possível para que durassem a sessão inteira. Depois a
escolha das poltronas, as brincadeiras contidas, até que se apagassem as luzes.
Então nos entregávamos, entre risos, às aventuras de Tom e Jerry ou às
magníficas produções de Walt Disney.
Mais tarde, viriam as sessões dos grandes sucessos
de bilheteria com a turma de amigos que sabíamos para a vida inteira, antes que
se perdessem para as películas românticas com os namoradinhos que também
jurávamos ser para sempre.
Com o tempo, a maioria destes templos da
sétima arte foram desaparecendo e muito poucos resistem reconhecidos como
patrimônio histórico. O mundo girando cada vez mais rápido e as sessões com
produções as mais variadas, são hoje vistas em pequenas salas entre um almoço e
as compras no shopping. E quem ainda fala em cinema de arte?
Publicada no Jornal “O Pioneiro” em
13/04/2014
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