As minhas lágrimas regam os sentimentos mais puros e verdadeiros e me fazem renascer a cada nova estação. (Mônica Caetano Gonçalves Maio/2011)
Registro na Biblioteca Nacional nº: 570.118

domingo, 6 de abril de 2014

E cadê?

Imagem: Ferrovia Madeira Mamoré, foto Dana Merril
               
Onde ficaram as águas de março fechando o verão? Este ano somente na lembrança de Jobim. Não vieram para estas bandas e não por encanto evaporaram-se. Passamos do nulo ao baixíssimo e posteriormente ao baixo risco de desabastecimento de água e concomitante aumento dos custos de energia, até que amarelamos de vez. O raciocínio é óbvio – todo líquido que se aquece evapora -, mas não cabem na lógica predatória dos incendiários senhores que alardeiam sua produção e lucros a qualquer preço desde o início da era industrial.

Pode parecer paradoxal, mas enquanto lamentamos as torneiras minguando e o deserto surgido onde antes abundava vida na Represa de Furnas, as águas esparramaram-se pelo Rio Madeira abaixo, afogando de vez os trilhos de nossas memórias. O pouco que restava da Estada de Ferro Madeira-Mamoré construída no início do século XX, as velhas locomotivas, o museu e suas peças históricas foram literalmente água abaixo.

Ainda piores, são as perdas humanas, os milhares de sobreviventes desabrigados, estradas intransitáveis e centenas de cabeças de gado afogadas. Afinal quem leva em conta as análises de impacto ambiental? Quem se lembra de como é formada a bacia do Madeira? Não, não previram que os rios Beni e Madre de Dios receberam uma sobrecarga d’água, com o maior degelo dos Andes somado às fortes chuvas em suas cabeceiras.

Enquanto sobra lá nas esquecidas terras – ou águas - de Rondônia, a nossa fonte de vida, e da qual viemos, escasseia abaixo da linha do Equador, já que mesmo com toda a nossa riqueza hídrica nos esquecemos de sua finitude e a exploramos sem a menor consciência e consideração pelo bem coletivo.

Dizem os estudiosos do clima que as altas temperaturas neste verão foram atípicas, enquanto modestamente indago se não se trata de um aumento progressivo observado a cada ano. Resta-me perguntar como Drummond: “Quem reconhece o drama, quando se precipita (ou não), sem máscara”?




Publicada no Jornal “O Pioneiro” em 06/04/2014

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